Opinião: Um (novo) setor público orientado por dados – 2

O mundo VICA – Volátil, Incerto, Caótico e Ambíguo – é o ecossistema perfeito para a oportunidade da análise de dados em tempo real. Durante anos, analisaram-se históricos, comparou-se com períodos homólogos, criaram-se previsões anuais. Atualmente, o mundo exige que aceleremos o passo. O mundo Big Data já não é apenas caraterizado por 3 Vs (Variedade, Velocidade e Volume), mas 10, incluindo Veracidade, Valor, Validade (qualidade dos dados e políticas de data governance), Variabilidade (contextos dinâmicos e evolução do comportamento das fontes de dados), Venue/negociação (dados heterogéneos e distribuídos por múltiplas plataformas pressupondo diálogo), Vocabulário (modelos de dados e semânticas) e Vagueness (adaptação a contextos imprevistos e imprecisos). Dados não faltam! Em final de ano letivo, preparação para exames de acesso ao Ensino Superior e definição da escolha do curso, os candidatos podem, este ano, considerar mais de 350 vagas em novas Licenciaturas em Ciência de Dados (criadas desde 2019 ). A Academia revelou estar atenta às necessidades das organizações e novos cursos não se fizeram esperar. Serão suficientes para as exigências do setor público? Esta 2.ª feira, 21/06, foi lançado o “Impulso Jovens STEAM”, integrado no Programa de Recuperação e Resiliência, que pretende, segundo a Direção Geral do Ensino Superior, “promover e apoiar iniciativas orientadas exclusivamente para aumentar a graduação superior de jovens em áreas de ciências, tecnologias, engenharias, artes e matemática”. O setor público orientado por dados vai necessitar muito destes profissionais.
O ciclo de valor dos dados no setor público pressupõe diversas fases, cada uma com exigências distintas em termos de competências técnicas: recolha e criação de dados (dados publicados, abertos, de sensores, de formulários, de contratos); armazenamento, segurança e processamento (garantia da qualidade dos dados, catalogação e limpeza); partilha, curadoria e publicação (solicitações e definição de acordos entre plataformas para a partilha de dados, websites de dados abertos); utilização e reutilização (pressupondo análise estatística, machine learning, visualização, políticas e serviços sobre “vida dos dados” e performance). Buzzwords habituais em marketing e comportamento do consumidor ganham nova vida aplicadas ao setor público, exigindo diversas competências presentes em alguns STEAM mas também desafios para a Academia na criação de novos cursos de mestrado que preparem os recursos humanos: Inteligência Artificial, automação, governos e sociedade orientados por dados, digital governance, governo digital, visão de ecossistema, e-democracia, dados de localização e geoespaciais, inovação no setor público e smart government. O que se antecipa é que o setor público, integrando estes desafios, trate os seus cidadãos como clientes satisfeitos com os serviços prestados e que a monitorização possa conduzir a melhoria dos serviços e no desenho de novos. Este valor global não é apenas criado por quem toma as decisões ou pelos profissionais envolvidos: é fundamental o contributo de cada um de nós, cidadãos.