Opinião – Porquê?
Um escritor americano, que há muitos anos veio viver para Portugal, terá exclamado com surpresa “ são todos brancos e falam todos a mesma língua?”
Faltou-lhe dizer que temos as mesmas fronteiras há cerca de 900 anos, somos maioritariamente cristãos católicos e padecemos de um feitio brando e tolerante que nos permite larga margem de manobra para lidar com a diferença.
E essa, impor-se-á porque nascemos poucos.
Com todas estas benesses sociais, culturais e geográficas e depois de uma mudança de regime feita sem sangue eis-nos presos a uma estratégia de desenvolvimento pouco ambiciosa, a políticas públicas teimosamente redistributivas, e a uma classe política com evidentes fragilidades a que se junta um ordenamento judicial com impactos fortes na percepção da segurança e neutralidade jurídica, fundamentais num estado de direito evoluído.
Nesta fase de pré-campanha eleitoral o cruzamento da politica com a justiça arrisca-se a fazer implodir o centro político em Portugal.
É um movimento em curso há vários anos, mas, nunca como agora, se revelou tao perigoso.
Porque nunca como agora enfrentamos uma formação partidária de direita populista que promete soluções radicalmente simples, rápidas e falsas.
O problema é que uma classe média fustigada e levemente saudosa de um mundo onde se sabia com o que se podia contar, e uma geração mais nova que não tem oportunidades e para qual o 25 de Abril é apenas uma data histórica, podem dar um folgo desproporcional a este fenómeno.
Porque chegamos até aqui é uma pergunta que temos de tentar responder com seriedade e funda intenção de melhoria.
Que os 50 anos do 25 de Abril nos encham de vergonha coletiva e nos motivem ao obrigatório ato de contrição .