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Opinião: Mais do mesmo

20 de setembro às 12h50
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Visto de fora, o triste episódio em torno da putativa deslocação do Tribunal Constitucional de Lisboa para Coimbra diz muito sobre o fétido centralismo bacoco que domina Portugal. Da subserviência ao perverso domínio da capital, mas também da incapacidade (há muito) de Coimbra para se impor e fazer respeitar.

Dois dos mais prestigiados festivais de teatro e de cinema do mundo acontecem em França, mas não em Paris, antes em Avignon e Cannes, respetivamente. O maior evento de música eletrónica do mundo decorre na Bélgica, não em Bruxelas, mas em Boom. O maior encontro global no setor editorial é na Alemanha, em Frankfurt e não em Berlim.

A “Biennale di Venezia” é umas das mais importantes exposições internacionais de arte do mundo e tal como o nome indica não tem lugar em Roma. A maior feira mundial da indústria das telecomunicações e conectividade acontece em Barcelona e não em Madrid. E os exemplos, nos mais diversos domínios económicos, além dos culturais, poderiam suceder-se.

Seria inquestionável o simbolismo de mudar a corte para Coimbra – e os argumentos históricos são muitos – mas, assim como assim, julgo mais proveitoso para a tão necessária solidariedade regional outras conquistas que transcendem a dimensão meramente administrativa.

À parte o dito simbolismo não seria a mudança de uns quantos contentores com processos e as viagens semanais do séquito judiciário que iriam trazer mais qualidade de vida a Coimbra, mais riqueza para os locais, mais emprego para os jovens, nem maior visibilidade internacional.

Ora, Coimbra tem condições naturais para ser referência em determinadas áreas. A saúde é uma delas, talvez a mais evidente mas não a única. Ora, uma verdadeira estratégia de descentralização passa por investimentos estruturais – nos transportes, por exemplo! – e por uma visão que ajude a fixar ali grandes eventos de referência e em torno dos quais se gerem ganhos económicos e empregos. Isto depende em grande medida da ajuda de quem “manda a partir de Lisboa” e da arte e engenho de quem governa Coimbra.

É mais do mesmo! A riqueza e o respeito locais não se decretam e já se antevia o fim deste “fait divers”, que serve apenas para alimentar tempos eleitorais sem que se fale do que realmente importa fazer.

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