Opinião: Portuguese Chicken
Quando vivemos do outro lado do mundo, é natural sermos confrontados com uma visão sobre Portugal que é diferente da que nós temos. Sem grande surpresa, somos (re)conhecidos por causa do futebol e do Cristiano Ronaldo, e começamos a ser associados ao Pastel de Nata (“Portuguese Tart”) vendido em supermercados e muitos cafés e que por vezes de Pastel de Nata tem pouco.
É também comum conhecer Australianos que visitaram Portugal e a maioria foi a Lagos. Muitos deles foram apenas a Lagos. Ao fim de anos e cansado de perguntar “E porquê Lagos?” não entendo a ligação (ou fixação) dos Australianos com Lagos. O que leva alguém a fazer 30 ou mais horas de viagem para ir ver praias semelhantes às que têm no próprio país? E, fazendo essa viagem, não ir a cidades históricas e mais famosas, que ficam apenas a curta distância?
Mas o que me apanhou ainda mais de surpresa foi a pergunta (recorrente): “E como é o frango em Portugal?”. Esta demorei, mas consegui entender: duas cadeias de restaurantes, o Nando’s e o Oporto, que cresceram a vender frango de churrasco com piripiri e batatas fritas, e tornaram “Portuguese Chicken” (frango/galinha à Portuguesa) num item no menu dos mais diversos restaurantes.
O Nando’s é uma churrasqueira moderna e nasceu na África do Sul em 1987, depois de Fernando Duarte, português emigrante em Joanesburgo ter ido almoçar a uma Chickenland (típico frango de churrasco para takeaway) com o seu amigo Robert Brozin. Decidiram comprar os 3 estabelecimentos da marca, tendo mais tarde renomeado-os de Nando’s (em homenagem ao filho de Fernando) e adoptado um Galo de Barcelos como logo. Com um marketing agressivo e muito trabalho, hoje faturam mais de mil milhões de dólares, têm mais de 1.000 estabelecimentos espalhados por 30 países, dos quais 250 na Austrália.
O Oporto é mais parecido com um McDonald’s de frango de churrasco, nasceu em Sydney, em Bondi Beach, por António Cerqueira querer servir este prato tão português numa das praias mais famosas do mundo. António vendeu o negócio a uma private equity em 2007 por 60 milhões de Dólares Australianos. Hoje, têm cerca de 200 estabelecimentos na Austrália e Nova Zelandia.
Devido ao sucesso destes dois portugueses, na Austrália “Portuguese Chicken” é marketing para dizer “temos bom frango” – independentemente de ser ou não de churrasco, levar piri-piri ou outro molho, a realidade é que é mais apelativo um menu com “Portuguese Chicken” do que apenas “Chicken”.
Tudo isto faz-me pensar: será que conseguiríamos fazer da Região Centro a nova Lagos dos Australianos? Usando a simplicidade de Portuguese Chicken, poderíamos, por exemplo, oferecer história, gastronomia e surf de uma maneira simples e tudo em menos de 50 kms.