Opinião: Para que vos quero, exames!
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O Guilherme é um aluno aplicado que chegou ao fim do ensino secundário sempre com boas notas, sem falhas na avaliação que dele fizeram os professores com quem trabalhou ao longo dos anos e que agora se verá perante as páginas de um enunciado, com uma dor de barriga fininha a dificultar a concentração, porque sabe bem que do resultado que vier a obter em parte dependerá o caminho do futuro que quer e gostava de prosseguir.
E pergunta-se para que servem os exames se tantas e tão diferentes provas prestou ao longo de todo este tempo.
Qual a necessidade de se sujeitar a estes momentos, uns escassos 120 ou 150 minutos, que lhe podem prejudicar um trabalho que criteriosamente fez durante anos e anos. O Guilherme sabe que isso talvez não lhe venha a acontecer, mas pensa também nos colegas a quem a fava poderá sair.
Melhor do que eu falam os especialistas deste tema, como Ana Benavente ou Jaime Carvalho e Silva. Mas não quero deixar de aqui referir o que a experiência me ensinou ao longo de dezenas de anos
No essencial, os exames são provas de aferição e têm a sua quota parte na transição para o Ensino Superior; não vamos aqui entrar na discussão recorrente de quem deve organizar e corrigir as provas escritas do ensino secundário e fazer as orais nas disciplinas que o exigem: se os docentes do Secundário se os do Superior.
Estamos a falar do valor social dos exames, que têm a pretensão de validar a qualidade do sistema educativo dando confiança aos diversos agentes, incluindo os económicos, pelo que se pretende transmitir à sociedade a ideia de que a nossa Escola tem qualidade e pode ser comparada com a de outros países, melhorando progressivamente os seus índices de eficácia; ou seja, os exames são à la carte, dando resposta a solicitações que lhes são pedidas.
Admito que este ano as dificuldades sejam acrescidas para o Guilherme e os seus colegas, porque a irregularidade com que decorreram os dois últimos anos letivos não terá permitido a consolidação de conhecimentos que devia ser requerida a cada aluno.
Para vermos a irracionalidade que preside a este tipo de avaliação, basta lembrar que no 12º ano muitos professores, empurrados pelos pais e encarregados de educação, começam desde muito cedo a fazer das aulas uma forte preparação para exames, apresentando problemas/questões que saíram em anos anteriores, postergando para segundo plano as outras vertentes que compõem a educação.
Como atrás se disse ou fica intuído, os resultados dos exames servem para “validar” as escolas (e aí temos os ranking), para tentar joeirar os professores entre os melhores e os piores, os mais exigentes e os menos exigentes, os que “preparam” para exame melhor ou pior. As Universidades entram então nesta equação, fazendo fé de que os candidatos foram devida e previamente monitorizados no Secundário e ali chegam com atestado de qualidade. E até a sociedade, se precisa de ocupar postos de trabalho, procura os que obtiveram melhores resultados nos seus exames.
Eis os momentos que se seguem para o Guilherme e para os outros jovens que frequentam as nossas escolas e para quem chegou o tal momento da dor de barriga. Boa sorte a todos!
PS- Conheci o senhor António Teixeira em 1986, quando lhe comprei um apartamento na Praia de Quiaios. Ele era mais velho do que eu dois meses e uns dias e com ele mantive vários contactos ao longo de anos, até que um dia vim a saber que não estava bem de saúde. Foi uma figura discreta que sempre se mostrou lhano e rigoroso nos contactos comigo. As minhas homenagens.