Opinião: Palco da História: Teatro Dom Pedro V e as comemorações do 25 de Abril
No coração de Macau, entre a agitação das estreitas e sinuosas ruas ergue-se, como parte da história da presença dos portugueses no território, o majestoso Teatro Dom Pedro V.
Construído em 1860, este foi o primeiro teatro ocidental na China. Edifício de estilo neoclássico, a sua fachada exibe simétricos elementos decorativos realçados a branco sobre um fundo verde; colunas jónicas, cornijas, frisos e grinaldas florais sobre os arcos. O acesso principal é marcado por um pórtico que se projecta com recurso a uma colunata, elemento este que serve de suporte ao seu imponente frontão triangular. Mais do que um edifício colonial, o Teatro Dom Pedro V é um tesouro cultural que sussurra ecos do passado e do presente.
O centenário Teatro é um dos mais distintos edifícios incluídos no “Centro Histórico de Macau”, inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO. Para além da sala de espectáculos com capacidade para cerca de 300 pessoas, possuía ainda um salão de baile, uma sala de bilhar e uma de leitura, tendo sido um importante ponto de encontro entre a comunidade portuguesa da época. Durante décadas, o Teatro Dom Pedro V foi palco de inúmeras apresentações teatrais, óperas chinesas, recitais e eventos culturais que cativaram e inspiraram o público local e visitante.
No entanto, a história do Teatro Dom Pedro V não é apenas de glória passada; é também uma história de resiliência e renovação. Ao longo dos anos passou por períodos de declínio e revitalização, adaptando-se às mudanças culturais e sociais que foram moldando Macau. Hoje, o Teatro continua a brilhar como um farol de arte e cultura, oferecendo uma variedade de espetáculos que enriquecem a vida da comunidade e preservam a herança cultural da cidade. É exemplo o magnífico espectáculo do passado sábado dia 13 de Abril, “Zeca”, que junta Pedro Jóia na guitarra e José Salgueiro na percussão, num repertório que une reinterpretações de Zeca Afonso, Carlos Paredes e notas originais do guitarrista. O concerto foi integrado nas comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril e, como reflexo da multiculturalidade e intercâmbio cultural da região, os espectadores tiveram ainda o prazer de assistir à actuação de um elemento da Orquestra Chinesa de Macau que, pelas cordas de um “erhu”, instrumento tradicional chinês, interpretou melodias do repertório revolucionário português. No final, ouviram-se entusiásticos aplausos de chineses conhecedores da história, turistas curiosos, comunidade expatriada e do meu querido pai. O meu pai que atravessou o mundo para vir, junto da filha, genro, neta e saudosos velhos amigos celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, trazendo com ele a sua conhecida bagagem de valores de fraternidade, liberdade e igualdade.