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Opinião: Descolonizar a Europa

29 de fevereiro às 09h00
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É um tema que cruzei num contexto laboral, sobre o qual nunca havia pensado, e que tem despertado um crescente interesse. É também algo que Portugal e Bélgica têm em comum: um pesado passado colonial que ultimamente tem suscitado debate e alguma polémica. Porque o colonialismo não terminou com os processos de independência e manifesta-se ainda nos mais diferentes sectores da sociedade.
A verdade é que o colonialismo não é apenas uma ocupação territorial e continua patente nos nossos dias sob muitas outras formas. Manifesta-se nas suas mais diversas maneiras, nomeadamente no neocolonialismo, nos estereótipos, no racismo, xenofobia ou islamofobia. Nas Universidades fala-se em descolonizar os currículos, repensar criticamente o impacto do colonialismo e o modo como os Europeus lidam e lidaram com as suas colónias, cujos recursos exploraram e saquearam.
Durante cinco séculos, Portugal manteve um extenso império colonial. Os espaços museológicos nacionais continuam a preservar a memória através de uma narrativa colonial, sem olhar crítico, com representações ligadas ao exótico e a seres em estado de inferioridade civilizacional nos povos ex-colonizados. O Portugal dos Pequenitos aparece frequentemente como caso de estudo neste âmbito.
A Universidade de Coimbra, por exemplo, guarda importantes coleções provenientes das ex-colónias portuguesas em África, Brasil, Índia, Macau e Timor-Leste. Recentemente, demonstrou vontade em iniciar o processo de descolonização das colecções científicas à sua guarda. O processo anuncia-se complexo, tanto mais que as opiniões não são consensuais, nomeadamente em questões de restituição e repatriamento.
Na Bélgica, a polémica rebentou quando um leilão propôs a venda de três crâneos humanos de pessoas mortas durante a colonização belga no Congo. Em Bruxelas, o Africa Museum reabriu em 2018 depois de uma enorme restruturação de 5 anos, no sentido de apresentar uma visão contemporânea e “descolonizada” de África. Num processo ainda em curso, a instituição oferece agora visitas guiadas que promovem a descolonização do espaço público e dos museus.
A discussão está lançada para que se termine de vez com a visão romanceada dos colonizadores enquanto superiores “donos do mundo”.

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