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Opinião – Chove a 10 de Março

16 de março às 17h43
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A chuva é como a democracia e cai para todos, molha os pés que a pisam, encharca a face dos incautos e adora ser guiada por rajadas de vento. Não chovem cores mas podem cair diferentes estados da matéria. Já vi chover calhaus! A chuva pode encharcar os pés, arrancar pontes, levar casas pelos barrancos. “Choveu que Chega” e o mundo incauto assustou-se. Um milhão de gotas fortes e frias. Choveu sobre a democracia a levantar questões. A primeira dúvida é que o povo se enfadou com alguma coisa. A segunda é que não quis saber das palavras dos que batiam e açoitavam o Ventura.
É um voto como o dinheiro: é frio, democrático, tolerante, sem família, sem amigos, silencioso.
Não sabemos quem o tem, se o dono não o quiser mostrar. Não sabemos quem o ganha, se não houver farronca. O voto chegou num silêncio intempestivo, revolucionário, representativo de um afastamento claro sobre as políticas cantadas. Se pingasse dinheiro era uma alegria colossal. Os homens saiam de baldes à rua e os que podiam arrancavam as banheiras para as colocar nos telhados. Mas não! Não chove dinheiro. Mas choveram votos no Ventura.
Não sendo amor, nem solidariedade, porque saíram à rua a escolher uma democracia da AD com o Chega? O amor é intempestivo, intemporal, sem donos, sem fronteiras, sem limites e sem cor, pátria, cheiro. Se chovesse amor, caia sobre todos e derretia os dissabores e as guerras e os desentendidos. Mas não chove amor. Como com as pessoas, o relacionamento é perverso, vítima de entendimentos, fruto de concessões e divergências.
A chuva de 10 de Março é um grito de alerta revolucionário, uma previsível visão destemperada de quem já só não paga impostos do que respira. Pagamos impostos directos e indirectos envolvendo a água, a luz, as casas que já pagámos, os carros que já comprámos, as estradas que já pagámos três vezes. A revolução dos que se fartam do discurso único, da ausência de contraditório, da verdade de alguns que se sobrepõe à própria realidade. São os incautos, os calados, os discretos, e são um milhão de almas entre tristes, desiludidas e zangadas. Mas julgam que não há votos positivos? O Chega também tem os seus acólitos, os seus apaixonados.
4º feira na Antena 1, durante o programa efeito borboleta, dizia Joel Neto, sem contraditório, que havia agora 48 potenciais deputados psicopatas no Parlamento. É um programa pago por todos, um serviço público, onde se pode insultar alguns. Imaginemos que o dizia do Bloco ou da CDU… Era um fascista! Mas choveram “um milhão de iletrados” a votar nos 48 deputados doentes. Joel Neto é obviamente um tipo cheio de azia a quem choveu democracia no casaco escuro.

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1 Comentário

  1. Poortugues diz:

    Imagino que se fosse um comentador político em horário nobre de domingo à noite, na SIC ou na TVI, sem contraditório, e vendido como isento, já não o incomodava…

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