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Opinião – BELI

21 de janeiro às 12h35
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A seguir às eleições, proponho que os deputados eleitos pelo Bloco de Esquerda e Iniciativa Liberal fiquem sentados lado a lado no hemiciclo da Assembleia da República. Afinal, estes dois partidos são gémeos separados à nascença que, à medida que cresceram em famílias e contextos distintos, foram sendo influenciados pelas circunstâncias das suas vidas.
O Bloco afirma nos seus Estatutos que se compromete “com a defesa intransigente da liberdade.” A Iniciativa Liberal também afirma defender “a liberdade individual na sua dimensão política, económica e social” e, ainda, que “contribui para o progresso da sociedade portuguesa, da democracia e da cidadania através de princípios e valores liberais. O Bloco é mais descritivo, e apresenta-se a combater “todas as fontes de desigualdades sociais, baseadas em formas de exploração e exclusão de caráter étnico-racial, de género, de orientação sexual, de idade, de religião, de opinião, de classe social ou baseadas na existência de diversidade funcional”. Gémeos que são, partilham a mesma contradição. Só diferem no alvo a atingir. Iniciativa Liberal culpa o Estado de nos impor um caminho de servidão. O Bloco, por seu turno, busca alternativas ao capitalismo. Para a Iniciativa Liberal não somos cidadãos livres, mas sim contribuintes involuntários para um Estado despesista, que nos impede de realizar os nossos sonhos, de atingir a nossa felicidade. Já a liberdade do Bloco perspectiva o socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.
Descendo um bocadinho ao terreno, são vários os dilemas que estes ideais provocam. Eles balançam entre a liberdade individual e a igualdade imposta pelo Estado. A tendência tem sido favorável à proibição de fumar, à imposição de conduzir com cinto de segurança, à censura de discursos qualificados de discriminatórios, textos supostamente não inclusivos e até piadas vistas como ofensivas para um qualquer grupo merecedor de ser defendido pela sociedade, algo que o Estado deverá garantir. Por isso não será de espantar que, dentro de pouco tempo, a vacinação seja obrigatória. Achava eu que nem cartão de cidadão deveria ter, mas tive de o ter para um dia poder receber um salário. Apesar de ser conhecido na biblioteca, também só posso levar livros comigo se apresentar cartão de identificação, o mesmo cartão que limita a minha liberdade de circulação, agora cumulado com o certificado de vacinação.
Os dois partidos políticos referidos neste texto vivem em permanente conflito. Ambos defendem a liberdade individual, mas a Iniciativa Liberal quer ser uma ferramenta de participação inclusiva destinada aos que querem um Portugal Mais Liberal, e o Bloco com certeza que não irá defender as minhas tradições culturais ou religiosas se por elas se sentir ofendido. Em que ficamos? Não se pode ao mesmo tempo proclamar o direito individual de liberdade de expressão como um pilar e fundamento essencial de uma sociedade democrática e progresso social e, depois, valorizar mais o direito a não ser ofendido, ou aceitar a opressão estatal neste domínio. Nesta matéria, entre BE e IL, o que muda é a direcção do vento.

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