Opinião: As mulheres nas carreiras de IT: conservadorismo vs desafio?
Num mundo ideal não haveria “Dia Internacional das mulheres” ( 8/março), “Girls in ICT Day” ( 25/abril/2024, quarta 5.ª feira de abril), “Dia das raparigas e das mulheres na Ciência” ( 11/fevereiro), “Dia das mulheres de negócios” ( 22/setembro) tal como não se assinala nenhum desses dias para os homens. Um ótimo sinal já que nenhuma de nós teria necessidade de lutar pelos seus direitos só porque é mulher. Em Portugal, a força de trabalho feminina é de 1.944.911 mulheres: dessas, 68,3% recebia, em novembro/2023, remuneração base até 1.000 euros brutos, 46% no máximo 800 euros de salário bruto (estudo da Comissão para a Igualdade da CGTP disponibilizado a 5/março/2024 ). Segundo o INE, o rendimento médio salarial líquido das mulheres era de 965 euros no 4º trimestre de 2023, contra 1.140 dos homens, configurando 15% de diferença salarial em 2023, contra 13,4% em 2022. Não é necessário lutar por isso? A preocupação não se restringe à vida laboral das mulheres: ela permanece quando se aposentam já que as reformas são indexadas aos baixos salários que auferiam. Continua na esperança média de vida: segundo o Instituto Europeu para a Igualdade de Género as mulheres vivem, com saúde, apenas até aos 58 anos, cumprindo quase 3 décadas de vida com limitações, considerando a esperança média de vida em Portugal. As consequências do baixo salário são muito penalizadoras para a saúde porque privam as mulheres de melhores opções por não as poderem pagar. E as mulheres em Tecnologias de Informação (IT)? São cerca de 17% dos estudantes em IT e aproximadamente o mesmo da população laboral. A Fundação José Neves lista as 10 profissões com mais ofertas de emprego, sendo os 2 primeiros lugares ocupados por funções em áreas de IT: 1 ) Programadores de Software (salário médio (SM)=2.244€) e 2 ) Analistas de Sistemas (SM=2.207€). Pesquisando as funções com salários mais elevados em IT, as 12 primeiras têm SM superiores a 2.373€ com expectativa de subir. O salário mais elevado corresponde ao de Diretor de IT (SM=4.157€) e as 12 funções correspondem a exigência de nível de educação superior e uma vasta e muito exigente lista de aptidões e áreas de conhecimento. Isso também está parecer afastar as mulheres destas áreas: em IT o requisito de aprendizagem contínua é fundamental, existe desequilíbrio entre vida profissional e familiar, exigência elevada das mulheres consigo próprias, falta de modelos nas profissões de IT, o que faz com que muitas mulheres diplomadas em IT trabalhem na área no início mas depois abandonem o setor. Muitas mulheres diplomadas em Engenharia Informática são docentes, tradicionalmente, a opção menos bem paga das profissões de IT. Porquê? A resposta, para mim é simples: poderiam ser tudo o que quisessem mas decidiram optar por percursos conservadores, com carreiras bem definidas. Caso a aposta em mentoras fosse uma realidade talvez o percurso fosse muito diferente para a maioria. A estatística diz, em especial para as do Ensino Superior: a probabilidade de ocuparem lugares de destaque na gestão e na tomada de decisão das suas escolas é muito baixa. Daí a necessidade de trazermos mais mulheres para a profissão, de lhes mostrarmos exemplos de líderes, de sermos mentoras e potenciadoras do sucesso de outros. Quando procuramos um propósito na nossa vida esquecemo-nos de pensar que ele pode ter sido determinado pelo dia do nosso nascimento: o meu aniversário é a 26 de agosto que é curiosamente o dia em que diversos países assinalam o “Dia Internacional da Igualdade Feminina”/Women’s Equality Day. É caso para dizer, parafraseando Sérgio Godinho: “pode lá alguém ser quem não é?”.