Opinião: À Mesa com Portugal–pequeno comércio

Sempre que ouço que vamos ter uma nova superfície comercial à volta de Coimbra, a minha cabeça dispara. Mais uma? O modelo económico que temos apoia-se na livre concorrência e na oportunidade de gestão. São esses fatores que ditam o preço e não o valor intrínseco do produto. Por outro lado, não é por termos uma sapataria numa rua que não podemos ter mais. Nem nunca ficar parado no tempo nos trouxe felicidade. Contudo, não podemos piscar o olho a um qualquer grupo comercial e deixá-lo ocupar uma parte dos arredores da cidade e, depois, darmos uma injeção de morfina ao pequeno comércio. Sim, porque qualquer incentivo que se possa fazer é apenas oxigénio que se está a dar a um moribundo. Sabemos qual vai ser o resultado, mas damos uma palavra de ânimo e uma palmadinha nas costas e marcamos presença com o discurso oficial de “temos de salvar o pequeno comércio”. Ao virar da esquina, está o grupo empresarial que acena com mais emprego e mais desenvolvimento de uma qualquer parte da cidade. Não conheço as condições de negociação para a instalação dos grupos de retalho, mas quase adivinho que as mesmas devem implicar isenções que as mesmas pequenas casas de comércio não têm acesso. E isso, deixa-me triste.
Se querem ter comércio à grande que deem as mesmas oportunidades a todos, que chamem esses mesmos grupos para os lugares da cidade que estão a precisar de ser salvos. Talvez assim não víssemos as ruas vazias, as lojas fechadas ou inundadas de produtos para turista desinformado como as peças de cortiça e faiança dita “nacional”, feita sabe-se lá Deus onde. É que o turismo não salva tudo. Não salva mesmo.
Depois, há um simples exercício de gestão de cidade. Como é que uma cidade tão pequena, atrofiada nos serviços e com pouco capital de risco na área da inovação consegue criar público para tamanha gigantez de áreas comerciais? Ainda, há a questão de um consumo moderado para que não se avolume o aterro situado em Vil de Matos, já visível quando se passa a entrada Coimbra Norte na A1 e que se faz notar pelo cheiro nauseabundo.
O coro em torno do modelo económico e social que a sociedade ocidental segue levanta fervura sempre que se toma consciência das consequências. Mas é discussão que dura pouco, é mais direcionada para as ações com as criancinhas nas escolas, do que na política a sério. Neste ponto, piscamos os olhos ao poder económico e, a seguir, distribuímos abracinhos para não perder votos.
Devemos querer mais para a nossa cidade, para o nosso m