Empreitada de requalificação de Mosteiro na Figueira da Foz vai parar dois meses
As obras de requalificação do Mosteiro de Seiça, no concelho da Figueira da Foz, orçadas em 2,7 milhões de euros, vão parar dois meses devido a indefinições do projeto, lamentou hoje o presidente da Câmara Municipal.
Segundo Pedro Santana Lopes, as indefinições do projeto estão relacionadas com os trabalhos da equipa de arqueologia, que pretende dedicar uma parte do espaço daquele monumento nacional ao processo de descasque do arroz.
“O empreiteiro veio comunicar-nos que não tem mais obra para fazer e pediu uma paragem de dois meses”, disse o autarca, que teme eventuais atrasos na empreitada de requalificação, que tem de estar concluída até dezembro de 2023.
Considerando “inconcebível a história” do arroz, o presidente da Câmara da Figueira da Foz apontou o dedo à Direção Regional de Cultura do Centro, com quem vai reunir dentro de duas semanas”, e revelou que as questões em cima da mesa se prendem com “a construção de um elevador e onde, e se vai existir uma cafetaria ou não”.
“Para mim, não me preocupa o elevador nem a cafetaria. Preocupa-me o que lá está com valor histórico”, salientou Santana Lopes, incomodado com o facto de em Portugal “ser sempre assim – anda tudo a dormir, mas quando começa a obra acorda tudo”.
O autarca mostrou-se incomodado com esta situação de indefinição e com o facto de o prazo da empreitada derrapar e o município perder o financiamento comunitário.
“Não devíamos estar a parar uma obra do que resta de um mosteiro que está em perigo por causa de uma polémica ao lado, absolutamente sem sentido”, sublinhou.
As obras de requalificação do Mosteiro de Seiça foram consignadas em dezembro de 2021 por 2,7 milhões de euros, comparticipados em 85% pelo programa Portugal 2020 e um prazo de execução até dezembro de 2023.
Em tempos, o Mosteiro de Seiça, localizado num vale da freguesia de Paião, no sul do concelho litoral do distrito de Coimbra, junto à linha ferroviária do Oeste e ribeira de Seiça, serviu como instalação para o descasque de arroz.
“O Mosteiro já está reduzido a uma parte e ir agora, com a história que tem, fazer a memória de uma atividade que não era compatível com aquela realidade de monumento nacional não faz sentido nenhum”, tinha desabafado, já em abril, Santana Lopes.
O Mosteiro teve origem na fundação da nacionalidade, embora o conjunto edificado atual seja dos séculos XVI e XVIII.
Com a extinção das ordens religiosas no século XIX, o Mosteiro de Seiça foi vendido a privados. No início do século XX até 1976 foi ali instalada uma fábrica de descasque de arroz.
“Se vamos começar a por ali memórias de todas as atividades que houve ali ao longo destas décadas, santa Maria”, enfatizou Santana Lopes, acrescentando que a atual situação “coloca em causa a realidade do mosteiro e a sua explicação e interpretação no futuro”.
O Mosteiro de Seiça foi adquirido pelo atual presidente da autarquia na sua primeira passagem pela presidência da Câmara da Figueira da Foz (1997-2001), cuja intervenção é classificada de difícil devido ao atual estado de ruína.