Opinião: Um arco-íris do outro mundo!
Os nomes dos planetas já descobertos à volta de outras estrelas aqui na nossa galáxia, normalmente referidos por exoplanetas ou planetas extrassolares, são, geralmente, nomes muito pouco apelativos. O WASP-76b não é exceção. Conhecemos já mais de 5000 exoplanetas e pouco mais de 150 receberam um nome. O planeta aqui referido, deve o seu nome à sigla do sistema de telescópios com o qual foi detectado: Wide Angle Search for Planets. Um deles nas Canárias e o outro na África do Sul, cada qual com um 8 lentes de 20 centímetros. Traduzindo ficaria: Busca de Grande Angular de Planetas, BGAP, não resultando em nome melhor.
Porém, apesar do seu nome, o WASP-76b revela-se um exoplaneta fantástico. Orbita uma estrela que se encontra na constelação de Peixes, a mais de 600 anos-luz de nós — em quilómetros é quase um seis seguido de quinze zeros —, orbitando-a a uma distância inferir a um décimo daquela à qual o planeta Mercúrio orbita o nosso Sol. Como se pode imaginar, desde já, as temperaturas nesse planeta são elevadíssimas, chegando a quase 2500 graus, vaporizando quase tudo durante o dia. Os vapores libertados durante o dia condensam-se durante a noite, formando nuvens das quais choverá ferro líquido. Se a cidade de Braga é conhecida como o penico do céu, este exoplaneta será certamente a forja do inferno.
O que foi agora descoberto neste WASP-76b, num trabalho liderado pelo astrofísico Olivier Demangeon, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e da Universidade do Porto, foi a provável existência de um muito peculiar arco-íris, chamado efeito glória. Descoberta só possível devido ao uso do famoso telescópio espacial Hubble, lançado em 1990, e dos mais recentes, mas menos famosos, telescópio espacial CHEOPS, lançado em 2019, telescópio espacial TESS, lançado em 2018, e do telescópio espacial Spitzer, lançado em 2003. Um trabalho impressionante.
O efeito glória é conhecido aqui na Terra. Consiste numa espécie de arco-íris circular. Tive a oportunidade de uma vez um numa viagem de avião. Já tinha ouvido falar, mas vê-lo, de facto, foi espetacular. Consistiu em ver uma pequena sombra do avião projetada por cima das nuvens, com um halo à sua volta com as cores do arco-íris, como se de uma aura se tratasse. Para muita pena minha, nunca mais vi nenhum. Conseguir perceber que na atmosfera de um planeta extrassolar a quase sei mil milhões de milhões de quilómetros de nós há um halo deste tipo é verdadeiramente de outro mundo.
Apesar de eu estar convencido de que ainda descobriremos vida algures no nosso sistema solar antes de a virmos a descobrir num exoplaneta distante, não consigo deixar de me perguntar quando chegará o dia em que teremos uma fotografia de um E.T. com um ar espantado de quem foi apanhado em fragrante.
1 ) Impressão artística do WASP-76b. Créditos: ESA
2 ) Fotografia de o efeito glória de um avião