Opinião: Tributo a Maria João Pires
A Japan Art Association anunciou há dias que Maria João Pires será distinguida este ano com o Praemium Imperiale, muitas vezes referido como o “Nobel das Artes não-literárias”. Este galardão reconhece o contributo global de artistas nas áreas da música, pintura, escultura, cinema/teatro e arquitetura.
Atribuído desde 1988, com o patrocínio honorário de Sua Alteza Imperial, o Príncipe Hitachi, o prémio culmina numa grande cerimónia em Tóquio. Entre os seus vencedores, encontram-se personalidades como Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Federico Fellini, Frank Gehry, Richard Attenborough, Óscar Niemeyer, Pina Bausch, Martin Scorsese, Leonard Bernstein ou Placido Domingo. Quanto a portugueses, apenas um, Álvaro Siza Vieira, premiado no já longínquo ano de 1998.
A vida de Maria João Pires é todo um tributo não só ao talento natural, mas sobretudo à dedicação, ao esforço individual e coletivo, ao empenho na constante busca da perfeição. Com um percurso que começou desde tenra idade, deu o seu primeiro recital aos 5 anos, venceu em 1970 o Concurso Beethoven – o que a catapultou para o reconhecimento mundial – e gravou das mais belas interpretações de Mozart, Schumann ou Beethoven de que há memória.
Mas temos de nos recordar que esta carreira decorreu em larga medida em Portugal, um país onde ainda tanto há por fazer no ensino da música clássica, longe (não apenas geograficamente) dos grandes centros deste género. Apenas mais um nível de desafio que a nossa compatriota teve de enfrentar. Talvez por isso mesmo, e por compreender o poder transformador da arte e a sua capacidade de moldar vidas, entendeu estender o impacto do seu trabalho para além dos palcos. No Centro Belgais para o Estudo das Artes, em Castelo Branco, promove a educação e o desenvolvimento artístico como uma forma de intervenção social. Este projeto reflete o compromisso da pianista com a partilha do seu conhecimento, contribuindo para o crescimento de jovens talentos e o acesso à arte por parte de comunidades mais desfavorecidas.
Maria João Pires é um exemplo vivo do talento nacional, que se destaca a nível global em todas as áreas. A sua linguagem artística une povos, promovendo um diálogo intercultural essencial nos dias de hoje. No próximo dia 19 de novembro, no salão do Meiji Memorial Hall, a sua mestria será reconhecida com um prémio que nos enche de incomensurável orgulho.
Lá estarei para bater palmas de pé.
Excelente comentário do mais culto e prestigiado embaixador do nosso país.