Opinião: Surrealismo laboral
Se os trabalhadores franceses são conhecidos pelo forte poder sindical e pelas intermináveis greves e manifestações constantes, os belgas têm de ser reconhecidos pela originalidade dos métodos utilizados nas suas reivindicações.
Há uns anos, em protesto contra a poluição sonora causada pelos voos do aeroporto nacional sobre algumas “freguesias” da cidade de Bruxelas, um grupo de cidadãos foi despertar um dos responsáveis pela circulação aérea na cidade com uma coluna de som. Através do sistema de audio, os manifestantes emitiram bem alto o som dos aviões à frente da casa do político belga, em plena madrugada. O insólito protesto não surtiu efeito, mas pelo menos chamou a atenção para esta problemática de uma forma original.
O acontecimento mais recente prende-se com a situação da fábrica da Audi em Bruxelas, onde o diálogo parece bloqueado entre a direcção e os trabalhadores. Depois de dois meses de pausa estival, a empresa avisou os trabalhadores que não iria retomar a produção, já que não receberia o novo modelo automóvel.
Como consequência imediata, os trabalhadores roubaram cerca de 200 chaves de automóveis como forma de pressão, exigindo explicações ao grupo Volkswagen.A direcção recusa entrar em diálogo e respondeu com o fecho da fábrica e a suspensão de salários. O braço-de-ferro continua e já na próxima segunda-feira decorre uma manifestação organizada por diferentes sindicatos, em solidariedade com os trabalhadores da fábrica automóvel, com o apoio de outras organizações sindicais europeias.
Seja através de “concertos” madrugadores ou pelo roubo de chaves, a realidade não engana: a Bélgica continua na vanguarda do surrealismo, mesmo nas manifestações e reivindicações.