Opinião: “Soldado Milhões”

Uma colega estrangeira veio no outro dia falar-me de um certo soldado português, considerado herói da primeira Guerra Mundial, aquando da Batalha de La Lys. Senti um pouco de vergonha por não conhecer tal personagem, pelo que tive de ir investigar o tal “Soldado Milhões”, que fez um brilharete no país onde vivo.
Aníbal Augusto Milhais foi soldado do Corpo Expedicionário Português ao lado dos Aliados, tendo recebido a mais alta condecoração militar portuguesa. A 9 de abril de 1918, dezenas de divisões alemãs irromperam pelo sector português, e em poucas horas, os portugueses perderam 7500 homens entre mortos, feridos e prisioneiros, naquela que ficaria conhecida pela batalha de La Lys.
No meio do caos, um soldado português vai transformar-se em herói. O soldado Milhais viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua arma e de coragem. O seu feito permitiu a retirada de vários soldados portugueses e ingleses. Vagueando pelas trincheiras e campos, o militar continuou ainda a fazer fogo esporádico. Quatro dias depois do início da batalha, encontrou um médico escocês e salvou-o de morrer afogado num pântano. Foi este médico, para sempre grato, que deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano.
Regressado a um acampamento português, o comandante tê-lo-á saudado com a frase “Tu és Milhais, mas vales Milhões!”. Além do busto na sua terra natal (Murça, Valongo), o Soldado Milhões foi o soldado português mais condecorado da I Guerra Mundial e inspiração para um filme recente (2018) e alguma literatura.