Opinião- Sacrifício e dever

Volto hoje à Carreira Diplomática. O concurso de ingresso, um dos mais difíceis de admissão à administração pública, é um desafio a que muitos se sujeitam.
No horizonte, para os candidatos, estão frequentemente visões de grandes capitais europeias, paraísos tropicais, memoráveis negociações políticas e o prestígio de um passaporte diplomático.
Mas não só de receções e jantares de gala se faz a diplomacia. Não gosto de dizer que há postos mais difíceis que outros, até porque esta carreira proveu-me de uma mundividência que deteta o positivo em qualquer lado. Mas é verdade que certas capitais custam mais que outras, e é fundamental que cada diplomata se saiba adaptar às circunstâncias, por mais ou menos desafiantes que sejam, e fazer os seus sacrifícios. Afinal, Munique não é Macau, Buenos Aires não é Roterdão, Dakar e, muito menos, Bissau.
Assim, nas dezenas de postos que constituem a rede diplomática portuguesa, a História, a geopolítica e os superiores interesses da Nação impõem a presença de Embaixadas e Consulados em zonas porventura menos tradicionalmente apelativas.
Saliento “tradicionalmente” porque, como já aqui relatei, comecei a carreira num país africano em pleno pós-guerra civil; nem em Bissau deixei de ver o apelo de uma nova e excitante experiência, num continente cheio de cores e sabores, cheiros e vida com que nunca tinha sonhado.
É uma infeliz realidade que nem todos partilham desta forma de encarar as primeiras colocações diplomáticas. Uma muito estranha reticência, aliada à falta de recursos humanos, leva a que em certos postos, muitas vezes sensíveis e turbulentos, onde a presença de vários diplomatas é fundamental, seja garantido apenas um – o Chefe de Missão, que, sozinho, deve representar Portugal em circunstâncias extremamente adversas.
Como qualquer um de entre as nossas honrosas fileiras nos serviços periféricos, cumpre lealmente o seu dever, 24 horas por dia, mas o reforço de que precisa demora – ou não chega – a aparecer.
Por isso, para além das aliciantes visões que os levam a tentar a carreira diplomática, importa que tanto os jovens como o Ministério que integram se saibam capitalizar mutuamente.
Aos diplomatas, impera o dever e o (total) sentido de Estado, que os deve levar aos mais recônditos locais, por vezes menos glamorosos que filmes e romances possam fazer crer. Será custoso, mas assim o exige a Carreira e o País; ao Ministério, que saiba promover e recompensar – enfim, que alicie – os jovens (e até veteranos) que cumprem este dever. Longe dos seus, merecem mais que ter os seus horizontes alargados. Só assim se garantirá o sucesso de uma rede diplomática ativa e eficaz, sem elos fracos, Embaixadores laptop ou serviços mínimos.