Opinião: Reindustrializar Coimbra
Coimbra tem de voltar a colocar a indústria no centro da sua atividade económica, pois essa é a única forma de inverter a curva de declínio em que Coimbra caiu desde que, em má hora, a propósito de um objetivo nobre (a coincineração), desinvestiu da indústria e deixou de colocar o foco da sua atividade de inovação no apoio de uma atividade industrial competitiva.
A indústria que cria valor precisa de um ambiente próprio para se desenvolver. Coimbra não tem esse ambiente e precisa de o criar urgentemente. Deve ser esse o objetivo essencial de qualquer proposta para a Câmara Municipal de Coimbra. A razão é muito simples: sem criar valor, não há emprego, não se fixam pessoas, a universidade e politécnico perdem foco e, no essencial, Coimbra deixa de ser atrativa. Sem criar valor, não há nada para distribuir, pelo que esqueçam todas as promessas de resolução milagrosa dos vários problemas de Coimbra. A gestão da coligação com o PSD/CDS/NOS/etc/(para)RIR não será diferente da gestão do PS de Manuel Machado, porque, no essencial, todos se limitam a identificar problemas, mas, como não têm plano, nem meios para o financiar, acabam por andar a tirar fotos aos caixotes do lixo cheios ou aos passeios com buracos. E isso não são problemas, são consequências de um problema maior: Coimbra não se diferencia e não atrai atividade económica. Sem criar valor, não há cultura, porque não há como a pagar. Sem criar valor, a universidade não se vai diferenciar, porque os potenciais alunos olham para a dinâmica económica da região e, no limite, escolhem outros locais igualmente competentes do ponto de vista científico e técnico. Sem criar valor, não resolvemos o problema demográfico, porque não atraímos pessoas. Sem criar valor, não fixamos empreendedores, nem empresários, nem seremos capazes de captar a atenção daqueles que criam oportunidades. A universidade, por muito competente que seja, e é, não é capaz de fazer isto sozinha. Precisa de gente esclarecida à frente ca Câmara Municipal de Coimbra. Gente que fala a mesma língua dos empresários e é capaz de um plano para criar um ambiente propício à reindustrialização.
Qual é o problema? Se isto é verdade, por que razão não aparece uma proposta competitiva? A razão é simples. Nenhum plano terá resultados visíveis em 4, 8 ou 12 anos. Demorará muito mais tempo, pelo que os políticos preferem apresentar soluções para problemas que existem, mas que são consequência de problemas maiores. São médicos que atacam os efeitos secundários que resultam de outro mal que eles, por incompetência ou desleixo, pura e simplesmente ignoram. Pelo meio inventam projetos megalómanos que nunca chegam a realizar, ou realizam em versão muito reduzida e depois de muitas dezenas de anos: aeroporto, campo de golfe, metro-mondego (transformado em metrinho-autocarro), capital de tudo o que lhes passa pela cabeça, etc.
Reindustrializar tem cinco exigências: 1 ) Escolher áreas em que Coimbra se possa diferenciar; 2 ) Constituir uma equipa de coordenação que tenha a Câmara, a Universidade e Politécnico e alguns empresários que fizeram a diferença, que tenha poderes de decisão; 3 ) Preparar a cidade para o investimento, procurando responder a todas as questões que um empresário coloca e tendo gestores de negócios preparados para acompanhar um investidor; 4 ) Despolitizar, procurando atrair os melhores para os lugares chave; 5 ) Constituir fundos de investimento que possam apoiar a atividade industrial na cidade, funcionando como forma de diferenciar a região relativamente a outros locais.
Isto que aqui apresento não é uma visão. Não há aqui nada de visionário. Há somente uma região que não gera valor e é incapaz de materializar aquilo que diz que é capaz de fazer. Sem indústria, não há transferência da investigação para o fabrico (em Coimbra) de produtos competitivos. É esse o nosso drama. As promessas não têm efeito. Falta gente consciente e competente.
Em Portugal, produzir alguma coisa, dada a falta de capacidade da generalidade dos empresários cá do burgo, é para concorrer com o Chinês onde em época de abundância ficamos a perder em todas as frentes. Como não se é competitivo por outras questões que não a mão-de-obra, a obsessão é a de reduzir os salários a meia dose de lentilhas, com trabalho extenuante pior que o trabalho escravo (o esclavagista como pagava pela aquisição do escravo, estimava-o melhor que muito do patronato que por cá temos que sem escrúpulos, não tem qualquer prurido em ordenhar o trabalhador até ele secar, porque a seguir contrata outro a quem ainda vai pagar menos e a quem continuará s replicar o modelo laboral que conhece e que vigora pelo facto de a lei e os tribunais serem uma anedota), mal de nós se ocorrer uma reindustrialização dessa natureza (os trabalhadores terão um estatuto semelhante ao estatuto do indigenato que vigorou nas colónias, criticado por opositores do regime como a figura controversa do Henrique Galvão)…
Pois parece que a minha candidatura tem cada vez mais adeptos, vejam a noticia do observador do dia 30 Maio. Miguel Ângelo Marques Candidato á CMC.