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Opinião: Portugal nas Pampas

27 de agosto às 13h20
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O cosmopolita bairro de Belgrano, a escassos metros do Rio de Prata e da solarenga costa de Buenos Aires, é refúgio habitual para quem vive na desmedida metrópole. Cafés de esquina, mercearias, cinemas, lojas e boutiques – aqui se deslocam os Porteños de várias zonas da cidade. Numerosos nas tardes de fim-de-semana, cruzam frequentemente uma praça especial com nome e tradição para a nossa comunidade na Argentina. Todos os anos, a 10 de junho, é celebrado na Plaza de Portugal o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Dezenas de milhares de portugueses e lusodescendentes habitam no país, a maioria em Buenos Aires. No entanto, só prestando especial atenção à sua geografia compreendemos a verdadeira posição destas comunidades além-mar, onde se inclui uma das mais austrais e dedicadas do mundo. A norte, a Associação Portuguesa de Oberá, na província de Misiones, quase toca o Brasil e tem no rio Paraná a fronteira com o Paraguai; no extremo sul, a comunidade de Comodoro Rivadavia sente o frio da Patagónia e os ecos seculares da viagem de outro ilustre português, Fernão de Magalhães, que desbravou aquela costa em 1520.

Na Europa, a distância entre estas duas comunidades seria o equivalente ao percurso entre Lisboa e Berlim!
Apesar destas limitações territoriais, o associativismo luso na Argentina tem uma antiga história na qual tive o orgulho de participar. Como toda a nossa diáspora, cedo se reuniram numa celebração de costumes, sentimento e solidariedade, que sempre transcenderam a própria nacionalidade. A Associação Portuguesa de Salliqueló, a mais antiga, foi fundada em 1916, a de Buenos Aires, em 1918 e a de Comodoro Rivadavia, em 1923.

São hoje mais de vinte as associações e clubes lusos na Argentina. Tão longe da pátria e da própria capital nacional, os portugueses de Comodoro Rivadavia avivam, ainda hoje, a chama lusitana junto à Terra do Fogo. Evoco aqui a memória coletiva destes descendentes algarvios, o saudoso Salão Luso, o Cônsul José Maria Amado, o Rancho Folclórico e Etnográfico, a (fundamental) ação social para com os mais carenciados.

Para mim, falar de Portugal na Argentina é recordar também a memória do nosso antigo Conselheiro para as Comunidades, António Canas Antunes. Beirão de gema, cedo emigrado para as Pampas, batalhou como ninguém pela afirmação dos direitos dos luso descendentes no país. Precocemente desaparecido, recordo-o com muita saudade. A ele e a todos os nossos compatriotas que diariamente lutam, labutam e nos fazem orgulhar de termos sido os primeiros a reconhecer a Argentina, como país soberano, a 16 de abril de 1821.

P.S. – O Club Portugués Del Gran Buenos Aires celebra este mês 43 anos de história, com o lançamento de um livro dedicado a quatro décadas de serviço à Comunidade. Os meus parabéns.

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