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Opinião: O Desvanecimento da “Françafrique”

24 de janeiro às 09h25
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Na semana passada, o Ministro das Finanças do Gana anunciou um acordo com os credores oficiais sobre a gestão da dívida ganesa, representando um passo significativo na direção da restauração da sustentabilidade da dívida do país, a longo prazo.
Boas notícias para a região: Gana e Costa do Marfim têm sido baluartes de estabilidade política e crescimento económico, numa área que tem enfrentado períodos de instabilidade preocupantes. Desde 2020, ocorreram diversos golpes de Estado na África Ocidental, na África Central e na região do Sahel: Mali em 2020 e 2021, Guiné e Chade em 2021, Burkina Faso com dois golpes militares em 2022 e Níger em 2023. Estas nações têm algo em comum: são todas ex-colónias francesas. Muitos historiadores e analistas consideram que os franceses nunca descolonizaram verdadeiramente, mantendo uma presença económica e militar nas suas ex-colónias muito mais intensa do que seria desejável.
Com os referidos golpes de estado, a influência francesa está sob ameaça de desapare-cer. No Mali, Níger e Burkina Faso, que recentemente formaram a Aliança dos Estados do Sahel, é comum ver, nas manifestações populares de apoio aos novos governos militares, bandeiras russas e cartazes com mensagens anti-francesas. O famoso grupo Wagner está, naturalmente, presente nos bastidores destes movimentos. Há também apoio da China, nomeadamente, no financiamento para a execução de infraestruturas críticas nesses países.
Esta tendência de substituir países europeus, como principais investidores, pela Rússia e pela China prevê-se que alastre por toda a África. A Europa continua a não saber apoiar e fomentar um desenvolvimento político e socioeconómico sustentável das diversas economias africanas. Como em muitas outras matérias, a Europa não actua de forma coesa nem com uma estratégia comum em África. Cada país europeu age de maneira diversa e autónoma em distintas regiões, conforme os seus interesses políticos e económicos, abrindo a porta para as superpotências Rússia e China que, culturalmente, não têm grande preocupação com direitos humanos nem com o desenvolvimento económico das populações locais. E quem vai sofrer as consequências da continuidade desse subde-senvolvimento? A Europa, obviamente. Vamos observar um aumento do fluxo de migrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo, ampliando a dramática realidade existente.

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