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Opinião: O computador que nasceu em Coimbra

14 de outubro às 13h28
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Regresso à minha antiga escola secundária (Avelar Brotero) para exercer o meu direito de voto e a primeira letra do meu nome leva-me para a última sala, lá no fundo do último piso. Uma sala que me traz à memória um dia de outubro de 1986 quando, recém-chegado a Coimbra, aqui entrei para a minha primeira aula de informática. Empolgado com imagens de salas de aula norte-americanas repletas de computadores, recordo uma certa desilusão com o equipamento disponível à altura, resumido a uma meia-dúzia de máquinas, as mesmas que nos iriam mostrar este novo mundo e permitir teclar os nosso primeiros programas em linguagem Basic, Pascal, C e outras.
Entre estas, destacavam-se os chamados computadores compatíveis IBM PC, a máquina de referência à época. Equipamentos que teriam custado milhares de contos, como os Goupil da empresa francesa SMT, e um computador que não sei se verdadeiramente alguma vez terei utilizado, o ENER 1000.
O ENER 1000 foi considerado o primeiro computador pessoal português, criado em 1981 na Universidade de Coimbra, na mesma época do PC da IBM. Começou a ser produzido na Figueira da Foz por uma empresa chamada Enertrónica e terá vendido várias centenas de unidades nos anos seguintes. Este PC português era uma máquina que corria sobre um sistema operativo CP/M, tinha duas unidades das antigas disquetes de cinco polegadas, 64 KB de memória e permitia ligar até 4 utilizadores. Tudo isto muito antes do Windows ou de qualquer sistema semelhante. Outros tempos.
Por esta altura, os computadores eram verdadeiramente dispendiosos e começar a construí-los terá sido uma das principais motivações dos seus criadores (tendência semelhante à que se manteve mais tarde e durante muitos anos com os chamados computadores “linha branca”). A ideia que existia de que cada país deveria ter a sua máquina acabou por ser contrariada por outra – a de um mercado global de computadores pessoais que, como sabemos hoje, veio a ser dominado por grandes fabricantes internacionais.
E o que aconteceu ao ENER 1000? O projeto não vingou por diversas dificuldades, mas acabou por entrar para a história da informática portuguesa, tendo sido considerado que este primeiro microcomputador, inteiramente desenvolvido em Portugal e com tecnologia portuguesa, veio preencher uma lacuna na produção nacional e facilitar a informatização.
Em dia de eleger os novos membros do poder local e, para que possa servir de inspiração, recordei este ato de pioneirismo, perpetuado que foi por alguns dos que tive oportunidade de ter mais tarde como meus professores na Universidade. À época foi totalmente precursor na colaboração Universidade-Indústria, que só muito mais tarde começou a ser uma realidade. E pensei no tipo de apoio que poderá ter faltado a este projeto, que fica seguramente para a história da microinformática em Portugal. Arrisco-me a dizer que um projeto deste tipo teria, hoje, acesso a outros apoios, financiamentos, o que talvez pudesse ter alterado o curso da história.

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1 Comentário

  1. Manuel martins diz:

    caro amigo, li com atenção o teu artigo, excelente, relembrei os momentos que passamos juntos a trabalhar um programa de apoio a distribuição de jornais, eu que nunca tinha tocado num computador, tu conseguiste incutir em mim bicho da informática, um abraço,,,

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