Opinião: O Centro de Arte Contemporânea de Coimbra

Falando brevemente do que sei parece-me uma evidência que Coimbra tem sido um lugar central para a Arte Contemporânea nas últimas décadas. Nos últimos anos tem sido notória o apoio do Município no sentido de reforçar as estruturas existentes e novos apoios. O exemplo mais significativo vem da criação da recente Anozero – Bienal de Arte Contemporânea que recolocou Coimbra no mainstream internacional.
Ora a criação do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra (CACC) há um ano atrás ( 4 de julho), e cuja motivação principal foi alojar uma parte da Coleção de Arte Contemporânea do Estado em comodato durante, pelo menos, 25 anos no Município, surge como uma forma de sedimentar a longa história da cidade no território das artes visuais.
O CACC, até pela sua posição geográfica, no coração do centro histórico (Arco de Almedina), pode contribuir para a reconfiguração do “polígono cultural” da cidade. Pode igualmente ser o catalisador de programações articuladas, quer em termos expositivos, quer ao nível da mediação educativa e da produção de conhecimento. Será vital a ligação às estruturas educativas da cidade e da região, estando já em execução programas educativos e científicos com várias escolas e a Universidade de Coimbra.
Do ponto de vista curatorial o CACC pode trabalhar a partir de coleções privadas e institucionais, muito por ter sido uma coleção que motivou a criação do mesmo. Coleções locais e regionais, numa primeira instância, para mais tarde alargar a uma dimensão nacional. As coleções privadas têm crescido de uma forma exponencial havendo diversos exemplos muito construtivos, no país, de depósitos privados para a fruição pública. No futuro, o CACC pode tornar-se numa espécie de casa do colecionador, criando assim uma identidade distintiva.
Acrescentaria a importância que já tem no campo universitário com este pequeno/grande detalhe: o Mestrado em Estudos Curatoriais que coordeno no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, como de resto todos as outras unidades orgânicas, são avaliadas regularmente por uma entidade externa. O sistema obriga-nos a identificar os pontos fortes e os fracos em diversos aspetos, mas também na relação do curso com a cidade. Um dos espetos “fracos” que nunca conseguíamos superar era a falta de um museu ou centro de arte contemporânea na cidade! Ora, pela primeira vez, na última avaliação, pudemos escrever que um dos pontos fortes a justificar a avaliação positiva do curso era o facto de já existir um Centro de Arte Contemporânea em Coimbra. Do forte fez-se mais forte!