Opinião: Número único

Um número único seria uma ideia soberba para a eficiência do Estado. Um número único seria também uma forma prática de visualizar, seguir, verificar quem não tenha nada a esconder. O mesmo número de cidadania PT0792217 ou do cartão de cidadão, seria atribuído ao meu telefone, à carta de condução, ao meu número fiscal. Claro que não haveria qualquer obstáculo a que esse número fosse o do telemóvel, o de cartão de sócio de uma agremiação, o da conta bancária em todas as instituições, acrescentadas as siglas dela ao numerário.
Um número como a pele, único, nosso, característico, funcional. Aquele número como a impressão digital é irrepetível e é sempre o mesmo e o meu. Que matrícula tem o teu carro? PT07291127. Qual o número da tua porta na rua? PT07291127. Qual é o teu número mecanográfico? PT07291127. E o processo médico no hospital? Claro que seria o mesmo, tal como em todos os cartões que tenho da EDP, da BP, das lojas do centro comercial.
Eu sou aquele número, e aquele número está tatuado no meu caminho. Porque temos tantos números? De Utente, de VISA, de carta de condução, de passaporte, de NIB, de trabalhador, de sócio da biblioteca; de sociedade portuguesa de autores? Só pode ser uma ineficiência do Estado ou uma panóplia de fazedores de empregos, de estrategas da desorganização, filósofos da burocracia.
O Ezequiel nascido é o número PT 07291127 e daí não varia mais. Os numerologistas descortinarão futuros na soma das parcelas, no desenho das sequências, mas nada alteraria uma nova realidade prática e simples – o Ezequiel é o PT07291127, quando come, quando fala, quando está preso, quando compra casa.