Opinião: Mi Buenos Aires Querido
A inflação anual na Argentina chegou aos 236%, em Agosto passado. Sim, leu bem, 236%! Se acrescentarmos que o índice de pobreza atinge 52,9% da população temos um caldo explosivo, num país de uma riqueza impressionante e com desigualdades assinaláveis.
Ainda assim, Buenos Aires é amplamente reconhecida como a cidade com o maior número de livrarias per capita do mundo (são mais de 400 ), e essa característica reflete a sua profunda importância cultural, tanto na Argentina quanto na América Latina.
A cidade tem uma longa história de produção literária e como centro para o pensamento crítico e intelectual. Escritores mundialmente famosos como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Adolfo Bioy Casares, por exemplo emergiram de Buenos Aires, consolidando sua reputação como um centro literário. Quem passa pela capital argentina tem como visita obrigatória ao “El Ateneo Grand Splendid”, uma das mais belas livrarias do mundo.
Passear na Avenida Corrientes – conhecida como a “Broadway” portenha – impressiona pela grande quantidade de livrarias, sebos e teatros, destacando o interesse contínuo da população pela leitura e pelo conhecimento. Apesar dos impressionantes números da pobreza e da inflação existem na capital portenha fortes hábitos culturais!
Aliás, Buenos Aires é também conhecida pelos cafés literários, onde intelectuais, escritores e artistas se reúnem para discutir ideias, promover debates culturais e intercambiar pensamentos. Cafés históricos como o “Tortoni” ou “De los Angelitos” abrigaram algumas das mentes mais brilhantes da cidade ao longo dos anos e simbolizam o papel central da literatura e das artes no quotidiano portenho.
A Argentina é muito mais que futebol – e ser campeã do mundo não é coisa pouca – Messi e Maradona. Buenos Aires é um importante polo de cinema, teatro e música, tem uma dimensão cosmopolita e é também um ponto de encontro de diferentes culturas. Os argentinos gostam de se apresentar como os “Europeus da América Latina” e em grande medida é verdade, pela influência espanhola e italiana que até hoje se sente no desenvolvimento cultural da cidade. Carlos Gardel tinha razão ao escrever a música que titula este texto. Buenos Aires não nos é indiferente!