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Opinião: Japão – vício digital desafia tradição

08 de março às 11h56
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No coração do Japão, onde a modernidade se encontra com a tradição, uma realidade tecnológica tem vindo a moldar de forma indelével o tecido social da nação: o vício em smartphones. Esta não é apenas uma questão de conveniência ou de estar a par das últimas tendências. É um fenómeno que reflete uma conexão constante, a ponto de 95% dos telemóveis no país serem à prova d’água, uma necessidade cultural enraizada no desejo de permanecer ligado até mesmo nos momentos mais privados, como durante o banho.
Mas a que custo vem esta omnipresença digital? As novas gerações do Japão, particularmente, estão imersas num mundo onde a realidade virtual é quase tão palpável quanto a física. Basta andar de metro todos os dias. O vício em smartphones tornou-se uma crise silenciosa, com os jovens a passarem em média sete horas por dia nos seus dispositivos, e uns alarmantes 10% ultrapassando as quinze horas diárias. Este comportamento não só levanta questões sobre o impacto na saúde mental e física, mas também sobre o futuro da sociabilidade, da produtividade e do compromisso cívico no país.
As implicações deste vício vão além do individual, ameaçando o tecido social e económico. A capacidade de manter conversas face a face, de envolver-se em atividades comunitárias e de desenvolver relações interpessoais ricas está a ser erodida por uma preferência pela interação digital.
A questão que aqui se coloca: como é que o Japão, uma nação que sempre se orgulhou da sua habilidade em harmonizar o passado com o futuro, pode enfrentar este desafio? A solução reside, talvez, na reavaliação da relação com a tecnologia, buscando um equilíbrio que permita à sociedade nipónica aproveitar os benefícios da conectividade sem cair nas armadilhas do vício digital.
Iniciativas que promovam a desintoxicação digital, a literacia mediática e o envolvimento em atividades extracurriculares podem servir como contraponto ao tempo passado online. A reintegração de práticas culturais que enfatizam a interação humana, a contemplação da natureza e o compromisso com as artes podem oferecer caminhos para reequilibrar a vida dos jovens japoneses.
O futuro do Japão (e, permitam-me caros leitores, também o de Portugal), nesta encruzilhada digital, dependerá da sua capacidade de cultivar uma geração que valorize tanto a riqueza das conexões humanas quanto a inovação tecnológica. O desafio não é pequeno, mas a história japonesa é repleta de exemplos de resiliência e inovação.
Enfrentar o vício em smartphones e redefinir a relação com a tecnologia pode ser o próximo grande passo na evolução social e cultural do país, assegurando que a geração conectada de hoje possa construir um futuro que equilibre harmoniosamente o digital com o profundamente humano.

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