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Opinião: Factores de risco

25 de junho às 12h38
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O Banco de Portugal identificou, no seu último relatório de estabilidade financeira, os riscos e vulnerabilidades que o sistema financeiro enfrenta em tempos de pandemia. São eles a inflacção, o imobiliário, as falências, as moratórias e a dívida pública. São, portanto, cinco factores de risco e perigo salientados pelo supervisor bancário.
Os dois primeiros, inflacção e imobiliário, encontram-se associados. A actuação dos bancos centrais tem permitido ter taxas de juro baixas, mas tudo há-de ter um limite, especialmente quando há factores que não dependem de nós, por exemplo, uma crise internacional que pode estar ao virar da esquina se a inflacção nos Estados Unidos da América subir. Isso provocará, inevitavelmente, maiores dificuldades no acesso ao financiamento, factor que tem sido a alavanca da resiliência do mercado imobiliário durante a crise pandémica, entre portugueses e demais europeus. Ou seja, uma possível deterioração das condições de financiamento internacionais poderá afectar negativamente o lado da procura imobiliária.
Por outro lado, quase todas as empresas têm visto a sua situação financeira deteriorar-se, o que tem potenciado o enorme risco de transformação de insuficiência de liquidez em insolvências. Só mesmo as baixas taxas de juro e as maturidades longas associadas às linhas de crédito com garantia pública têm permitido às empresas não incumprir e, assim, evitarem a insolvência. As medidas de capitalização anunciadas, e essencialmente uma recuperação económica rápida e forte são, por isso, determinantes.
Ao nível particular, é óbvia a diminuição do rendimento das famílias provocada pelo desemprego. A situação financeira dos portugueses é crítica e quando forem retiradas as medidas de apoio, como são as moratórias no crédito, no curto prazo existe o sério risco de enormes problemas sociais, apesar de existir a evidência que uma parte significativa das famílias acedeu às moratórias por precaução. Não obstante, esta é mais uma razão para o esforço de manter as taxas de juro baixas e as medidas de apoio dirigidas às empresas que indirectamente apoiam o rendimento das famílias.
Para além dos factores de risco associados às empresas e particulares, também a dívida pública e as garantias de Estado são motivo de preocupação, na medida em que o elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes, constituem uma verdadeira vulnerabilidade, desde logo se as condições de financiamento internacionais piorarem. Regressamos à necessidade de alongar as maturidades da dívida pública para reduzir o risco de refinanciamento, e a pedir que o Banco Central Europeu mantenha condições de financiamento adequadas à recuperação económica. Uma boa notícia será, certamente, o impacto que o Mecanismo Europeu de Recuperação e Resiliência vai ter em Portugal.

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