Opinião: Desafios ambientais para programas eleitorais II
Estamos a um mês das eleições autárquicas ( 26 de Setembro). Ficaram assustados com as notícias do relatório da ONU sobre as alterações climáticas? Mais do que com a pandemia? Se não ficaram, deviam. As consequências começam a fazer-se sentir.
E que tem isto a ver com as eleições autárquicas? Muito, a meu ver. As cidades têm intervenção a dois níveis, nas causas e nas consequências. Aqui ficam algumas ideias dispersas.
Nas causas podem intervir ao nível do consumo de energia e emissão de gases com efeito de estufa. Desde logo com uma estratégia de mobilidade que privilegie o transporte público e os modos suaves (pedestre e ciclável). E não poderá ser com meros pensos rápidos mas com formas drásticas como seja a diminuição/interdição de automóveis particulares em grande parte do espaço urbano. Essa diminuição é também condição para a eficácia do transporte público e para o fomento dos meios suaves (alargar passeios, por exemplo). É preciso diminuir drasticamente a circulação automóvel particular nas cidades.
Também a intervenção na eficiência energética. Aqui temos muita sorte, é que temos casas com muito baixa eficiência térmica passiva. Ou seja, temos casas que aquecem demasiado no tempo quente e arrefecem no tempo frio. Com tão baixa eficiência qualquer ganho é significativo, mais do que com o aumento da produção. É preciso desenvolver de programas de melhoria térmica passiva de edifícios (seja de habitação sejam de equipamentos públicos).
Quanto às consequências parecerá que nada podemos fazer. Podemos. Não se poderão diminuir os eventos extremos por mera vontade mas poderemos intervir no dano que esses efeitos terão, por exemplo, uma cheia em área não habitada tem menos consequências que numa área habitada. Há que preparar as cidades para os cenários que se previram e que se começam a confirmar.
Teremos mais chuvas torrenciais (e ao mesmo tempo menos água…). Teremos mais ondas de calor e invernos mais rigorosos. Uma das opções sensatas quando desejamos sair de um buraco é parar de cavar. É preciso parar de comprometer com urbanização áreas que se prevêem possam ser afectadas por cheias.
É preciso recuperar ou criar áreas de amortecimento dessas cheias, restaurando ou criando zonas húmidas, mantendo galerias ripícolas, articulando-as com espaços verdes sem construção. É preciso criar mais espaços verdes, mais estruturados ou mais naturalizados.
É preciso diminuir a impermeabilização das cidades. Porque têm os parques de estacionamento à superfície que estar revestidos a alcatrão?
As cidades são, já, espaços mais quentes que a área envolvente. Muito, não só mas em grande parte, pela exposição do terreno (e muita superfície alcatroada) ao Sol. É preciso diminuir esse efeito, é preciso criar sombras. É preciso plantar árvores, sim, mas antes ainda é preciso parar de as abater para permitir mais espaços de estacionamento de automóveis particulares.
Mesmo que as alterações climáticas não fossem o mote, estas respostas promoveriam sempre a qualidade de vida no usufruto da cidade… Mais alguém vê aqui uma ironia, ou sou só eu?