Opinião: Coimbra Candidata ao título de Capital Europeia da Cultura 2027
Acabo de ler na Revista “As Artes Entre As Letras”, de 16 de Junho, dois textos: “Coimbra candidata-se”, de Cristina Robalo-Cordeiro, e “Coimbra, a Literatura e as “Cidades Invisíveis”, de António Pedro Pita, duas das personalidades envolvidas na candidatura de Coimbra ao pódio europeu de “Capital Europeia da Cultura 2027”. Cristina Robalo-Cordeiro inicia o seu texto dizendo que “Portugal está a mexer” porque “dez das nossas cidades preparam em crescente frenesim a sua candidatura”… Eu acrescentarei que Coimbra também já está a mexer … e “Cidades Invisíveis – Encontro Literário Internacional”, que há pouco tempo se realizou, foi talvez, como diz António Pita, “a experimentação, nos vários sentidos da palavra, do “programa”.
Mas, se esta candidatura de Coimbra não o é da cidade de Coimbra, mas, como diz Cristina Robalo-Cordeio, “de uma comunidade formada pelo conjunto dos municípios da região”, há que ver todo este conjunto em movimento … numa cadeia de solidariedade, em que tudo seja feito de novo e investigado ou, simplesmente, talvez até apenas posto a descoberto entre o imenso património existente em Coimbra e região limítrofe, para que esse património possa ser olhado, admirado, meditado … num trabalho que no futuro abra a porta aos jovens a uma tal “cultura”.
Com todo o respeito pelo Grupo de Trabalho desta candidatura, Cristina Robalo-Cordeiro e António Pita são duas personalidades de Coimbra reconhecidas pelo frenesim que emprestam a tudo o que fazem e pela sua capacidade de trabalho e de investigação dos recursos históricos e culturais desta Cidade. Mas, infelizmente, sabemos quanto por vezes esta Cidade se apresenta apagada na sua vitalidade, envergonhada da sua riqueza, sem uma caneta que reescreva o que afinal já está escrito, e ninguém parece ver, ou querer ver, nesta Cidade que canta nos parques e jardins, que chora cantando os amores de Inês, que se espelha nas águas do Mondego … e que agora quer deixar de ser “cidade invisível” e ser mensageira dos grandes poetas e escritores portugueses que por aqui passaram, tais são Camões, Eça de Queirós, Machado de Assis, Trindade Coelho, Miguel Torga, Fernando Namora, Eugénio de Andrade, Manuel Alegre e tantos outros.
Como António Pita diz no seu texto, e eu plenamente subscrevo, “a literatura pode ser um convite para entrar numa cidade”… sobretudo quando essa Cidade ameaça estar “invisível”!… É que, como disse Italo Calvino, “as cidades invisíveis são, no fundo, como algo que se transforma no último poema de amor às cidades quando se torna cada vez mais difícil vivê-las como cidades”.
Marco Polo, ao descrever as “cidades invisíveis” por onde foi passando, agrupou-as em onze temas. Atrevo-me a dizer que Coimbra poderia enquadrar-se em qualquer desses temas, desde História, Memória, Saudade, Símbolos, Olhares, Beleza, etc.
E, não o último, mas o melhor poema de amor que podemos cantar à nossa Cidade é percebermos que o trabalho necessário para a concretização desta ambição – Coimbra, Capital Europeia da Cultura 2027 – tem de ser feito por todos nós, com a experiência de uns e de outros, com o saber e o espírito crítico positivo, com a proposta ou a confrontação das várias ideias. Vamos redescobrir na nossa Cidade aquilo que está oculto, ou até parece morto! Vamos acabar com o atavismo que a nada conduz ou a crítica negativa do que os outros se esforçam por fazer! Se todos quisermos, e tudo fizermos para isso, seremos a Capital Europeia da Cultura 2027!…