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Opinião – A verdade da guerra

26 de fevereiro às 11 h00
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A guerra é uma instância de verdade. Desvela a realidade dos artifícios do discurso e da propaganda. Torna a vida nua. Desencenada. Revela-a em estado bruto. Brutal.
A guerra é a consagração do direito do mais forte à Liberdade (Fassbinder). E recorda ser a lei da selva o único, o verdadeiro direito natural.
A guerra é o espelho límpido da natureza humana. Do princípio de mal e de violência que, desde a hora zero, rege e orienta o modo de ser humano.
Levinas vê no rosto do Outro a probição absoluta de matar ou de infligir sofrimento. Está enganado. O rosto do Outro é o sinal do antagonista, do adversário, do inimigo. Do diferente. Daquele cuja ausência, destino, dor ou morte causa comoção breve e indiferença profunda.
Filtrada pelas lentes das câmaras televisivas a guerra é espetáculo, e espetáculo limpo. Espetáculo pornografico, de igual modo, como toda a reprodução fotográfica da dor e todo o frame televisivo do sofrimento o são.
A guerra é uma coisa que só acontece a alguém que fez alguma coisa para a merecer. Não a nós, eternos inocentes de mãos limpas. Que colocamos velas nas janelas. E cantamos give peace a chance.
Acontece que a canção não é uma arma. Nunca o foi. Nem a filosofia, a arte, a cultura, as humanidades. Nem a poesia, apenas possível , apenas suportável, depois do dilúvio.
Miguel de Unamuno, em 1912, no Do Sentimento Trágico da Vida, afirma uma antipatia irremível pelos conceitos de Humanidade e de Humano. A mesma antipatia que, quarenta anos volvidos, Hannah Arendt, em As Origens do Totalitarismo, faz desabar sobre o conceito de Direitos do Homem.
Ambos têm razão: Humanidade, Humano e Direitos do Homem são abstrações puras, discursos vazios, conceitos pietistas.
Abstrações, discursos e conceitos que ocultam, e sepultam, os homens e as mulheres reais, concretos, de carne e de pensamento, de sangue e de emoção, que têm apenas uma breve e singular vida para ser vivida. Vida única, impermutável, finita, derradeira. De filigrana. No fio da navalha.
Também essa é a verdade da guerra.

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