Opinião : A tal sorte
No outro dia dei-me comigo a pensar na vida futura, quando a conversa entre o diplomata português e o conselheiro comunitário, ambos cidadãos da mesma nacionalidade, divergiu entre canapés e galhardetes clubísticos servidos no palacete com humor e amizade q.b.
O que me interessa é esta Vida. E seria um despropósito não estarmos ali pela mesma causa coletiva, por muito que se procure justificá-la, fazendo aceitá-la, que a única maneira de não morrer nos dias de pandemia que correm por aí, é ser vacinado.
Nesse ponto, a conversa entre diplomata e conselheiro sublinhou a diferença de “igualdade” de oportunidade, não sendo universal nesta mesma lotaria. Gelou-se-me o sangue! E o pastel de bacalhau que de sabor só pecava em ser diminuto.
É um facto que por a morte ser certa não nos obriga a aceitá-la. Assim como a vacina experimental contra a covid-19. Mas a diferença não estava na aceitação e sim, no acesso desigual a ela para dois cidadãos da mesma nacionalidade.
Acontece que o diplomata, para quem morrer depois de vacinado contra a covid-19 seria uma autêntica vergonha nacional, foi inoculado na África do Sul com o fármaco enviado por Portugal, com direito a certificado digital e a isenção de confinamento à chegada ao território nacional ou europeu.
Já o conselheiro, que foi vacinado no sistema nacional de saúde sul-africano, teve que cumprir recentemente quarentena obrigatória à chegada a Lisboa, onde lhe recusaram também o certificado digital por residir na África do Sul, país que se debate precisamente com a mesma variante ‘Delta’ que atingiu Portugal.
O conselheiro português, que adora que lhe carimbem o passaporte sempre que viaja à pátria, explicou ao seu concidadão que lhe recusaram também a segunda dose da mesma vacina num posto de vacinação aberta em Portugal, mesmo tendo cartão de cidadão.
Que sentido faz diferenciar o acesso à Vida em tempo de pandemia global?