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Opinião: À Mesa com Portugal – entre a espada e a parede

25 de fevereiro às 11h27
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Ninguém merece, mas os restaurantes muito menos.

A pandemia trouxe a ausência da rotina de clientes.

De cozinha regional ou de alta cozinha, todos passaram pelo mesmo.

E, de um momento para o outro, sem se perceber muito bem como estavam todos a adaptar o negócio para a venda para fora.

Parecia uma febre, uma corrida louca que todos tinham de ganhar independentemente do tipo de negócio ou do local onde estavam situados.

Nunca as regras da pandemia foram justas com a restauração, mas o que é certo é que todos sem exceção souberam cumpri-las e levar a bom porto o desígnio da saúde pública.

Dos testes aos certificados digitais, nada desviou a restauração nacional do que eram as obrigações impostas.

Agora que nos aproximamos do fim das restrições, pensaríamos que tudo poderia ser melhor.

No entanto, não me parece que assim seja.

Pouco se tem falado, porque se aceitou tal como natural, mas o aumento generalizado dos preços é uma ameaça maior que toda a realidade da pandemia.

Falo da escalada de preços que as matérias-primas têm vindo a evidenciar.

Das mais simples às que representam um custo maior como o peixe ou a carne, todas têm sofrido aumentos consecutivos.

Os economistas saberão explicar o ciclo económico que está por detrás e os analistas financeiros poderão fazer as suas previsões.

Certo é que não são precisas muitas contas para perceber o quanto tal vai afetar os pequenos restaurantes.

Pressionados para fazer refeições acessíveis de forma a manter os clientes como irão os restaurantes reagir? Fazer contas é preciso e, provavelmente, aumentar os preços também, mas entre o deve e o haver a margem será curta e as dúvidas serão muitas.

Acredito que muitos, crentes de que vai haver uma solução, não terão coragem para fazer os cálculos necessários e irão manter-se na linha de água com tendência para ficar abaixo dela.

Outros, irão fazer um esforço para calcular ementas que permitam o equilíbrio entre os preços das matérias-primas e o preço que os clientes podem pagar por uma refeição.

E, no meio disto, lá continuará a restauração a ser sacrificada.

Durante os últimos meses escrevi várias vezes que toda o contexto criado pela situação pandémica deveria ter levado as organizações que juntam e defendem os restaurantes a exigir um outro olhar para os custos que cafés, pastelarias e restaurantes têm que suportar.

Referi que, perante o caráter contributivo que os mesmos representam, outra atenção deveria ser dada.

Mas não.

Começamos e terminámos da mesma maneira.
Os impostos são uma cruz, mas ninguém fala disso.

Pela variedade, quantidade e intensidade são uma espada sobre a cabeça da restauração e similares.

Os custos fixos são outra cruz.

Para não falar da quantidade de “serviços” a que este setor é obrigado a recorrer só para cumprir legislação e financiar empresas que mais parecem parasitas à espera do sangue.

Quem está no meio sabe que são serviços fantasmas feitos para cumprir check-lists e dar emprego a alguém.

Tudo junto, mais o que está para vir pelo estalar da guerra na Europa, não augura nada de bom.

Claro que iremos sempre encontrar uma solução, sobreviver é preciso.

Mas custa-me que um setor que tanto contribui para a felicidade dos povos esteja sempre entre a espada e a parede.

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