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Opinião: A extinção dos pardais

08 de novembro às 13h56
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Após a tomada do poder por Mao Tse Tung na China, iniciou-se, em 1958, a Campanha contra as Quatro Pragas que destruíam os povos e as colheitas: mosquitos, moscas, ratos e pardais. Bem comandados, todos os chineses colaboravam e competiam pelo melhor efeito, sendo recompensados pelo número de vítimas – por exemplo, ratos ou apenas os seus rabos – que conseguissem apresentar às autoridades. A mais conhecida campanha foi a dos pardais, iniciada numa manhã de Abril de 1960. Os chineses colocavam-se estrategicamente sob os locais onde os pardais pousavam para repousar; munidos de panelas, potes e colheres, faziam um ruído de tal modo ensurdecedor que os pobres animais se mantinham no ar até caírem mortos por exaustão. A campanha foi muito eficaz, e a maioria dos pássaros desapareceu dos céus da China.
Os chineses não tardaram porém a perceber as consequências do seu voluntarismo colectivo. A população de gafanhotos e outros insectos comidos pelos pássaros explodiu, e as colheitas de arroz, dizimadas pelos novos inimigos, diminuiu ao contrário do que era esperado. À Campanha contra as Quatro Pragas seguiu-se rapidamente a Grande Fome que matou dezenas de milhões de chineses em dois anos.
Sempre surgiram no mundo ideias grandiosas, às vezes aconselhadas por “cientistas” (a destruição dos pardais foi aconselhada por um influente ornitólogo, Tso-hsin Cheng). O impressionante, não é o surgimento destas ideias, mas o bando de seguidores que cegamente se esforça por cumpri-las. Os desastres humanos que daí resultam são bem conhecidos. Mas a lição dos chineses é mais ampla: quando não se respeitam as leis naturais, é a natureza, no seu todo, que se vinga, e quem sofre são os humanos que dela dependem. Tudo isso é hoje bem evidente e está em discussão a propósito do clima. O que está em causa é a sobrevivência da espécie humana, mas não da vida no seu conjunto.
A vida e a natureza não desaparecem, apenas se adaptam e transformam. Sabemos que isso aconteceu há 66 milhões de anos com a queda do asteróide que dizimou os grandes dinossáurios, alguns dos quais reduziram se tamanho e evoluíram até se transformarem em aves. Sobreviveram também os animais marinhos e aqueles, como os pequenos ratos, que tinham uma vida subterrânea e se transformaram am mamíferos até até chegarem aos Sapiens. Agora, estes podem dominar os asteróides, mas não se dominam a si próprios. Vamos ver o que acontece.
De há dois anos para cá, os vírus tomaram-se inesperadamente os grandes protagonistas. É possível que eles sejam fabricados em laboratório, mas as leis da natureza fazem-nos seguir o seu caminho, modificando-os e colocando-os em interacção até atingirem os equilíbrios necessários. Seria melhor deixar que isso acontecesse. Mas orgulhosos das tecnologias que permitem a alteração da rota dos asteróides e a extinção dos vírus à nascença, estamos a esquecer as leis da natureza. Às vezes parece que andamos como os chineses dos anos 60, a matar os pardais até à sua extinção, sem perceber que eles podem ser substituídos pelos terríveis gafanhotos.

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