Companhia de Coimbra Escola da Noite parte de Cortázar para falar de refugiados
A companhia de Coimbra Escola da Noite estreia na quinta-feira “Casa Tomada”, um espetáculo que se socorre da porosidade do conto homónimo do argentino Julio Cortázar para falar de refugiados e da sua condição de desterrados.
O espetáculo, dirigido pela encenadora brasileira Silvana Garcia, foi pensado e construído coletivamente como um poema cénico, misturando passado, presente e futuro, numa peça que aborda a situação dos refugiados, que se deslocam entre casas, tempos e vidas, sintetizou a companhia de Coimbra.
No conto de Cortázar, dois irmãos veem a sua casa a ser gradualmente ocupada por forças não identificadas, numa obra que aponta para possíveis metáforas, como a alienação de uma classe média que fantasia inimigos, mas que ignora as ameaças reais, ou a crítica a uma classe aristocrática em decadência, impotente perante o avanço de setores populares.
Silvana Garcia, no seu texto para o programa do espetáculo, destaca a porosidade da “Casa Tomada” de Cortázar, que permite ser um ponto de partida “para a criação de uma nova fábula”, tendo como base a ideia de “deslocamento e despossessão”.
Nesta nova produção da Escola da Noite, a companhia aborda a realidade de “milhões de desterrados que, ao longo do tempo, vêm sendo destituídos de lar e de cidadania”.
“A todo o momento, somos bombardeados nas televisões e redes sociais por imagens e relatos de fugas e perseguições, que se somam, na memória histórica, a outros cenários de guerra e de intolerância. Com o tempo, de algum modo, essas violências acabam sendo naturalizadas ao ponto de não nos importamos mais e é preciso reafirmar constantemente que, sim, estamos implicados nessa realidade”, vinca a encenadora.
No espetáculo, quatro atores compõem as figuras dos refugiados, substituindo os dois irmãos do conto de Cortázar, com a convivência forçada a tornar-se, aos poucos, em solidariedade.
Para Silvana Garcia, o espetáculo é também um gesto de solidariedade e empatia para com essas populações em êxodo.
Segundo a companhia, o espetáculo vive de “luz, som, vídeo e tempo”, tempo esse presente em coisas que ficam – “sacos, molduras, vozes e cheiros” que levam as personagens de “volta a casa por instantes que sejam”.
A temporada no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, arranca na quinta-feira e estende-se até 26 de maio, contando com sessões com interpretação em Língua Gestual Portuguesa em 10 e 19 de maio.
A peça é interpretada por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash, contando com cenografia de Rachel Caiano, música original de Luís Pedro Madeira, iluminação de Danilo Pinto, som de Zé Diogo e vídeo de Eduardo Pinto.
Os bilhetes custam dez euros.