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Artistas Unidos encerram trilogia de Pau Miró com estreia de “Búfalos” no Citemor

12 de julho às 17h28
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Foto - Jorge Gonçalves

Os Artistas Unidos estreiam, no dia 25, no Citemor, em Montemor-o-Velho, a última peça da trilogia de Pau Miró, “Búfalos”, a “mais dura” e triste das três peças que, mesmo assim, deixa “pontadas de esperança para o futuro”.

As afirmações são do encenador Pedro Carraca, que dirige a última peça da trilogia iniciada pelos Artistas Unidos no passado mês de março com a estreia de “Girafas”, e continuada em abril com “Leões” – uma trilogia que a companhia optou por apresentar por ordem cronológica da ação, dando continuidade temporal a personagens e situações que vêm das anteriores.

“Búfalos” põe em palco cinco adolescentes abandonados, que apesar de conseguirem sobreviver “em manada” estão completamente desamparados, sem figuras paternas de referência, ao contrário das duas peças anteriores do dramaturgo catalão, nas quais eram os adultos a tentar lutar pela sobrevivência.

Num cenário com elementos das outras duas peças da trilogia, em “Búfalos” só restam “os adolescentes, as crianças”, observou Pedro Carraca.

“Não é que não se sinta que os pais não tentem fazer o seu papel, mas acabam por desaparecer, por sucumbir”, acrescentou, sublinhando tratar-se de uma peça “muito diferente das outras”, já que a ação se passa “num tempo que não sabemos muito bem qual é”.

Na peça “Girafas”, a ação situa-se em Barcelona, nos anos de 1950, centrada num casal que pretende ter um filho que tarda a nascer. O drama reflete as mudanças ocorridas na capital catalã, do regime autoritário franquista (1939-1975) até perto da atualidade.

Em “Búfalos”, a ação pertence aos descendentes de “Girafas”. Perdidos no meio de uma sociedade que lhes é cada vez mais hostil, tentam sobreviver, sabendo que não pertencem ao lugar onde estão, desconhecendo se são de qualquer outro lugar e o que o futuro lhes reserva.

A peça tinha muitas formas de ser posta em palco – “uma forma mais conceptual ou menos conceptual” -, afirmou Pedro Carraca à Lusa. O encenador disse que podia mesmo tê-la feito com os cinco jovens sentados em cadeiras, a desfiar a história.

A opção, porém, foi tentar “não sublinhar demasiado os momentos” que os protagonistas de “Búfalos” vão construindo, com a evocação de situações e outras personagens, de modo a não quebrar “a linha narrativa”, mas ao mesmo tempo “tentando que não fosse só essa linha narrativa a existir”, explicou o encenador.

Estas personagens são também o resultado das suas famílias e das condições que estas tiveram, observou Pedro Carraca. Daí que, longo da ação, haja sempre símbolos das outras duas peças, remetendo para o passado e para o que se vai repetindo ao longo das gerações.

Segundo o encenador, a peça traduz “o abandono da vida como nós a conhecemos”, embora “isso se passe um bocadinho” em toda a trilogia.

“Búfalos” decorre numa “cidade que vai expulsando as pessoas dos sítios, como a nós, e que vai alterando a sua dinâmica em função de um negócio”, indicou. E de repente “os personagens perdem as referências familiares e perdem também as referências do espaço”.

“Onde é que eles pertencem, de onde é que eles são, o que é esperado deles? Nenhum sabe”, enfatizou. Perante um futuro incerto, há todavia alguns “personagens que se safam”.

Os cinco jovens de “Búfalos”, os mais fracos no conjunto da trilogia, “precisam da ‘manada’ para sobreviver, para se apoiar”. São eles próprios que se chamam a si mesmos “búfalos”.

Andam em grupo, mantêm algumas características de força, mas sabem que não estão no topo da “cadeia alimentar”. Os “búfalos” vão-se apoiando uns aos outros sabendo que um dia acabarão por sucumbir.

Sendo a primeira peça da trilogia na sequência original, mas a última em termos cronológicos, esta é a “mais dura” das três obras, ainda que tenha “sempre ‘pontadas de esperança’ para o futuro”, a esperança de que a próxima geração não seja como as anteriores, sublinhou Pedro Carraca à Lusa.

Essa esperança torna-se visível na última parte, com a gravidez de uma personagem. Algo que pode muito bem, segundo Pedro Carraca, vir a dar continuidade à trilogia do autor catalão.

“Búfalos” estreia-se no dia 25 de julho, pelas 21:30, no âmbito do Citemor – Festival de Artes Performativas, na Toca – Antiga Fábrica de Mármores de Montemor-o-Velho.

A interpretar “Búfalos” estão Gonçalo Norton, Joana Calado, João Estima, Nuno Gonçalo Rodrigues e Rita Rocha Silva.

A peça tem tradução de Joana Frazão, cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves e luz de Pedro Domingos.

Autoria de:

Agência Lusa

1 Comentário

  1. Antigo Estudante da ULisboa diz:

    “Na 3ª 16 de Julho, venha despejar o Teatro da Politécnica connosco.
    A partir das 15h00, dizemos Adeus, Politécnica juntos.

    Os Artistas Unidos convidam-vos para a desmontagem e despedida do Teatro da Politécnica no dia 16 de Julho a partir das 15h00 e até às 19h00.

    Depois de 13 anos de trabalho de portas abertas, fechamos o Teatro Paulo Claro / Teatro da Politécnica.
    Depois de mais 130 espectáculos apresentados, entre produções próprias, co-produções e acolhimentos, neste espaço em que estreámos tantos textos inéditos e não só, recebemos autores, outras companhias, mostrámos artistas plásticos, conversámos, lemos em conjunto, lançámos Livrinhos de Teatro, fizemos leituras…

    É com aqueles que nos acompanharam, e que são também parte deste espaço, que queremos encontrar-nos para dizer “Adeus, Politécnica”.

    Vemo-nos por cá?”

    “BÚFALOS de Pau Miró Tradução Joana Frazão Com Gonçalo Norton, Joana Calado, João Estima, Nuno Gonçalo Rodrigues e Rita Rocha Silva Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Assistência de cenografia Francisco Silva Luz Pedro Domingos Som Rui Rebelo Assistência de encenação Américo Silva e Inês Pereira Encenação Pedro Carraca M12

    Estreia a 25 de Julho no Citemor – Antiga Fábrica de Mármores
    5ª às 22h30

    2. Há muitas maneiras de uma pessoa se afundar, / não se afundar é uma delas, por exemplo.
    Pau Miró, Búfalos

    Búfalos, um espectáculo sobre a sobrevivência, a individual e em grupo. A sobrevivência perante os outros, mas também perante a mudança da realidade que nos rodeia. Física e afectivamente.
    Os descendestes das Girafas e dos Leões, os esquecidos, mas também aqueles a quem o futuro pertence.

    Pedro Carraca “

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