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Opinião: Um código postal para a educação

17 de fevereiro às 11 h08
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O que ficou da educação na última campanha eleitoral? Muito? Pouco? Nada? Muito pouco, para não dizer nada.

De facto, mal se ouviu falar dela, pouco se leu sobre ela, pouco se refletiu sobre ela. Mas a educação não interessa aos partidos políticos e a quem lhes dá rosto?

Deve interessar e muito.

É um dos mais fortes pilares do desenvolvimento dos povos e, não por acaso, onde as taxas de são mais baixas o desenvolvimento dos países menor é.

A importância da educação vai muito para além do que se aprende na escola, sendo óbvio que a primeira educação se dá em casa, no seio das famílias e junto das comunidades.

Há alguns anos dizia-se que em casa se educava e na escola se instruía.

Mas os paradigmas de vida mudaram e hoje a escola tem também a incumbência de educar, o que não descarta as famílias de fazerem a sua parte.

Como processo de socialização que é, ajuda à promoção de uma melhor qualidade de vida e promove as transformações sociais.

Como agora se diz correntemente, é um enorme elevador social.

Tem havido neste país alguma (poucochinha) polémica sobre a Educação para a Cidadania que faz parte dos curricula escolares.

Só por rematada tolice tal pode acontecer.

Quem pensa que a educação se deve ficar pela transmissão de conhecimentos das disciplinas curriculares tradicionais vive fora do mundo; a educação contribui de maneira decisiva para a formação de cidadãos e promove a transformação social; ali, naqueles edifícios muitas vezes pouco confortáveis, se aprende a viver em comunidade e a respeitar os valores da democracia e da liberdade.

E liberdade não é negar às crianças uma parte importante da sua formação, isso é deseducar e pôr na sociedade cidadãos irresponsáveis e detratores do próprio mundo (e não temos um recente exemplo de como um cidadão mal formado pode pôr um país em alvoroço?).

E volto ao princípio deste texto.

O que aconteceu na campanha eleitoral em que a Educação não fez parte da ementa dos partidos é a tradução evidente do que tem acontecido em Portugal nos últimos anos.

Ministros incompetentes, partidos com outras preocupações, cidadãos embalados em temas relevantes como o futebol ou o festival da canção (para não falar do debate sobre sondagens que parece ter-se tornado assunto de primeira página) conduzem obviamente ao vazio que tristemente nos ocupa hoje.

Longe vão os tempos em que os dirigentes políticos sabiam de políticas para a educação. Marçal Grilo, Roberto Carneiro, Ana Benavente, José Manuel Canavarro, cada um com as suas ideias, mas todos competentes na matéria.

Parece ter sobrado João Costa, que discretamente passou como secretário de estado do Ministério da Educação nos últimos anos e que é o único porta-voz com referências e conhecimentos sobre o valor da educação e a forma de a reformar e a adaptar aos nossos tempos e, sobretudo, aos que aí vêm.

Mas que podia fazer tendo à sua frente um ministro ignorante e incompetente? Os líderes do amanhã terão de passar por escolas que lhes incutam todos estes valores.

Saber ponderar, tomar em conta o bem comum, refletir e tomar decisões são etapas para as quais a escola deve preparar.

Por exemplo, se um bom médico, bem formado nos aspetos técnico e científico, não estiver educado para se relacionar com as pessoas a que tem de assistir, seguramente que terá menos sucesso profissional do que aquele que pretenderá e merecerá.

Esta conceção, que nem sequer é nova, deveria estar presente nas linhas programáticas dos partidos, que falaram mais depressa dos aspetos economicistas que sustentam a escola pública do que daquilo que é, no fundo, a raiz do que em boa verdade sustenta a escola pública de massas: combater as desigualdades sociais, promover os direitos humanos, diminuir a violência.

Agora aguardo que do lado do governo que entrar em funções haja a sensibilidade de entender e aprofundar tudo isto.

Eu sei que a mudança de caras não traz, só por si, mudança de políticas.

Mas espero um ministério onde se dominem as magnas questões da educação o que pode ser meio caminho andado para mudar as políticas.

Uma espécie de código postal para a Educação.

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