Opinião: Terceira guerra mundial por pedaços
O Alto Representante para a Política Externa da União Europeia, o espanhol Josep Borrell, disse que ‘estas estão entre as horas mais negras para a Europa desde a Segunda Guerra Mundial’.
A invasão da Ucrânia coloca-nos diante de um cenário que pensávamos longínquo. Contudo, agora sentimos que está perto, está no nosso continente, quase às portas de casa.
De facto, temos vivido as guerras à distância, como um problema dos outros, como uma realidade fora das nossas geografias.
Na Europa temos dado por garantida a paz, temos pensado que é apenas um tema político e da diplomacia externa. Contudo, a paz precisa de ser cuidada, de ser construída, de compromissos concretos.
O Papa Francisco, já no final de 2015, alertava para muitos conflitos em várias regiões do mundo “a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma ‘terceira guerra mundial por pedaços”. Basta pensar no Afeganistão, Síria,
Iraque, Somália, Sudão, Myanmar, norte de Moçambique… Ucrânia.
Não há guerras ‘santas’ nem boas, não há povos de primeira ou povos de segunda. A guerra é a maior desilusão humana que podemos experimentar.
O pior da guerra é que é motivada por interesses essencialmente económicos e políticos. A estes interesses juntam-se desejos de poder.
Na guerra o outro é visto como um inimigo. Sem inimigos não há guerra. Por isso, sempre que o matamos ficamos extremamente felizes. Que tristeza! Que desumanidade!
Em 2021, a 4 de fevereiro, o Papa instituiu 1º dia internacional da fraternidade humana. Nesse dia disse: “a fraternidade é a nova fronteira da humanidade. Ou somos irmãos ou destruímo-nos uns aos outros”.
Num minuto destruímos vidas, casas, projetos, sonhos, esperanças…
Mas o pior da guerra está nos inocentes, nos que são obrigados a lutar, nos que são empurrados para a frente de batalha…
Quem ‘decide’ a guerra não está na frente de combate. O pior da guerra está nos inocentes que morrem, nos ‘famosos’ efeitos colaterais, nos traumas que ficam… Na guerra tudo é desumano.
Em Kiev todos pensavam que a guerra era assunto do passado; em Cabul todos diziam que os talibãs não iriam tomar o poder, em Alepo todos pensavam que a guerra estava longe…