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Opinião: Saber ouvir a cidade

13 de abril às 11h21
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Enquanto muitos imaginam a Sociologia mergulhada na realização de questionários, entrevistas, análise de estatísticas e exercícios de observação, existe um mundo vibrante de informações socioculturais a ser desvelado através de um sentido que é frequentemente negligenciado: a audição. As paisagens sonoras, na sua complexa articulação de ruídos naturais, humanos, industriais e tecnológicos, desvendam dinâmicas sociais, tensões, mas também a beleza da vida em comunidade.
Centrando a atenção nos sons predominantes na cidade, assim como nas suas variações ao longo do tempo, a análise das paisagens sonoras pode contribuir para a avaliação do impacto das transformações urbanísticas, para a identificação de problemas e para a formulação de soluções que incrementem a qualidade de vida dos residentes.
Inspirada nesta abordagem, convido-vos a um exercício de escuta atenta. Caminhem pelas ruas de Coimbra e deixem-se guiar pelos sons que vos envolvem, tanto os atuais quanto aqueles que guardam na memória. Imaginem-se, por exemplo, na Rua Ferreira Borges, onde já predominou o som de elétricos e de automóveis mais barulhentos que se misturava com buzinas e frases pregão de um cauteleiro. Estes eram os sons do coração de uma cidade animada, mas em boa medida isolada das dinâmicas globais.
Sem abrir os olhos, tentem perceber o sentido das mudanças. A ausência do ruído de motores, a peculiar miscelânea de idiomas estrangeiros, o tilintar das xícaras de café ou dos talheres em pratos nas esplanadas e as melodias dos artistas de rua formam uma sinfonia que envolve um ambiente descontraído, típico de um centro que se converteu, em parte, numa espécie de parque de diversões.
Concentrem-se num som específico e tentem imaginar as camadas de significado que ele revela. A melodia de uma concertina, ou de uma guitarra ligada a um amplificador, delimita um espaço sonoro, transformando um segmento da rua num palco musical improvisado. Essa apropriação acústica do espaço pode gerar tensões ou sinergias com aqueles que o usam para outros fins. A música certamente traz alegria às ruas, atrai gente e promove uma atmosfera mais dinâmica e acolhedora, favorecendo tanto as atividades comerciais quanto o entretenimento. A mesma melodia, porém, pode resultar numa intrusão auditiva, numa fonte de poluição sonora. Imaginem a rotina de um estudante, ou de um trabalhador, que partilha esse espaço e que vê sua capacidade de concentração ou descanso perturbada pelo eco repetido de notas musicais.
As mudanças socioeconómicas e a natural evolução do tecido urbano geram novas paisagens sonoras. Essas paisagens, por sua vez, originam novas dinâmicas sociais que, naturalmente, comportam desafios. É da responsabilidade dos urbanistas, políticos locais e cidadãos em geral trabalhar, de forma cooperativa, para enfrentar esses desafios, assegurando que as paisagens sonoras da nossa cidade permaneçam harmoniosas e inclusivas.

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