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Opinião: Portugal, segundo Marcelo Rebelo de Sousa

15 de maio às 09h46
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Num encontro com jornalistas estrangeiros em Lisboa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez observações sobre o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, descrevendo o seu estilo como “não lisboeta nem portuense” e que “é uma pessoa que vem completamente de um país profundo urbano-rural e por causa disso é uma pessoa difícil de entender e lenta”. Estas declarações não são surpreendentes, pois refletem uma visão centralizadora e elitista historicamente presente em Lisboa em relação ao resto do país.
Existe a perceção de que, para alcançar destaque e poder, em Portugal, é necessário viver nos dois grandes centros urbanos, Lisboa e Porto, preferencialmente na capital, construindo redes de contactos dentro do microcosmo dessas cidades. A falta de inserção nesse círculo resulta, muitas vezes, ser-se considerado “rural” e “lento”.
As tentativas frustradas de deslocalização, num passado recente, de instituições como o Tribunal Constitucional e o Infarmed demonstram essa centralização. O parecer do Tribunal Constitucional contra a mudança da sua sede para Coimbra, alegando que seria desprestigiante e teria uma carga simbólica negativa, evidenciam o quão difícil é descentralizar em Portugal.
Uma análise aos 608 Institutos Públicos listados no eportugal.gov.pt revela que Lisboa abriga 222 deles, representando 37% da sua totalidade. A título de exemplo, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem a sua sede na Praça do Duque de Saldanha, bem no centro de Lisboa. Faz todo o sentido, considerando a extensa área da natureza e das florestas existentes na capital.
A transferência de algumas dessas instituições para o interior do país teria benefícios significativos, não apenas para as regiões menos desenvolvidas, mas também para aliviar a pressão populacional e a contínua necessidade de investimento em infraestruturas em Lisboa.
A centralização excessiva é uma característica de países subdesenvolvidos, e a retórica sobre a descentralização em Portugal carece de resultados concretos. As observações de Marcelo Rebelo de Sousa, um urbano e sofisticado cidadão de Cascais, reforçam essa realidade já conhecida.

Autoria de:

João Quaresma

1 Comentário

  1. Traga Sapos diz:

    Ora aqui temos mais um exemplar opinativo do glossário do engolir.
    A lentidão, se bem nos recordamos, era mais para a área geográfica das especiarias e dos dumplings de arroz (também há os de trigo a que muito avessos são os celíacos), tratava-se de um elogio, e que aqui e noutros lados, parece ter sofrido de algum tipo de enviesamento.
    A ruralidade, por outro lado, era lusitana, e tratar-se-ia de uma questão de ideário costumeiro a que corresponde um determinado fenótipo comportamental, possivelmente o resultado de uma anomalia social, que poderá ter (ou não) base genética, e que comummente apresenta uma típica distribuição geográfica, a que correspondem geralmente afirmações como: “Ora vejam, só! É da província e constata-se o esquema de defeito crónico.”. Atenção, que neste caso, pode tratar-se ou não de um elogio. Pode, pode. Pode igualmente tratar-se da assumpção de um padecimento crónico, não por quem o carrega, mas por quem o observa, e de igual modo, actividade cognitiva e comportamental sujeita a todo o tipo de enviesamentos e carência de suporte empírico.

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