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Opinião: O Sul da Alemanha

08 de outubro às 15h54
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Cheguei a Estugarda no início de 2006. Tinha 35 anos e ia ser o Cônsul-Geral de Portugal responsável pelo sul da Alemanha, área que conta mais de 65.000 portugueses e que abarca os enormes Bundesländer de Baden-Vurtemberga e da Baviera.
Dizia-se então na carreira diplomática que Estugarda era um posto de final de carreira e que estaria reservado àqueles que, por uma razão ou outra, saíam do radar das promoções. “Olhe que ainda se vai arrepender” (..) “Isso é para quem está acabado.”
Sempre defendi que são as pessoas que fazem os lugares. Às vezes contra tudo e todos, e assim o provei. Basta acreditar que podemos mudar para melhor servir Portugal.
Veja-se a minha chegada, com a família, no pico do inverno. Calor de esturricar em Buenos Aires, um frio de rachar em Estugarda, 10 graus negativos. O choque não foi apenas térmico, mas também linguístico e até cultural.
Recordo um dos primeiros episódios, à entrada de um supermercado onde o nosso João (porteño de gema e com apenas 2 anos), por se recusar a usar luvas, indumentária que lhe era completamente estranha, chorava compulsivamente com as mãos geladas. Aquilo que em Buenos Aires suscitaria solidariedade, gerou ali apenas mal-estar nos olhares reprovadores com que a Andrea e eu nos sentimos brindados, quais OVNIs acabados de aterrar no planeta Alemanha.
Lembro-me das primeiras dificuldades e desconfianças da nossa Comunidade à abertura que então implementei nos serviços consulares. Começou no próprio consulado, no meu primeiro dia de trabalho. Entrei, energético e com o meu então ar jovial, e fui barrado, como nos tempos de adolescente em que me pediam a identificação nas discotecas: “Não pode entrar aí, área reservada ao pessoal.” Timidamente respondi: “Bom dia, sou o novo Cônsul-Geral…”
Complicações vencidas, lutei durante os dois anos em que aí permaneci por uma dignificação da nossa Comunidade e das nossas associações. O sul da Alemanha sempre foi um local de diversidade e conta com várias associações portuguesas. Infelizmente, muitas delas viviam de costas voltadas umas para as outras há mais de 40 anos. Não nos podemos esquecer que a vida associativa é o quarto pilar da democracia representativa.
Fora deste microcosmo português, recordo histórias com alemães sem fim e que ficarão para uma das próximas crónicas.
Apanhámos, também, o Mundial de 2006 e toda a epopeia das Quinas em terras teutónicas. Terminaria de forma injusta, nas meias-finais, no relvado do Allianz Arena à mercê de um tal de Thierry Henry… (era a segunda meia-final a que assistia contra a França e por isso jurei a mim próprio que não veria mais jogos “mata-mata” com os gauleses. Não fui a Saint-Denis em 2016 e…. fomos campeões).
De entre todas as pessoas que aí conheci, destaco o Fernando Meira (e a sua família, que passaram a ser a nossa) e o Padre Joaquim Carneiro, de Nuremberga. Também a eles dedicarei mais parágrafos e histórias que merecem ser contadas.

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