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Opinião: O Humano no trabalho

06 de março às 10h28
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As reflexões sobre o futuro do trabalho têm-nos trazido discussões diversas: primeiro a preocupação sobre a substituição dos humanos pelas máquinas em muitas tarefas com a consequente redução dos postos de trabalho. Depois centradas no que as máquinas poderiam automatizar: mencionavam-se tarefas “aborrecidas e repetitivas”, o que nos tranquilizou, no que ficaria para as pessoas realizarem, o que parecia promissor, destacando tarefas criativas, de pensamento e inovação.

Atualmente, com muitas aplicações que usamos a incluírem já Inteligência Artificial em tarefas não repetitivas, afinal, cada um de nós manter-se-á a trabalhar a fazer exatamente o quê? Discuto isto com os meus estudantes: “conseguem idealizar o que irão fazer na vossa carreira de 40 anos?”.

Continuamos “presos” aos modelos de ensino-aprendizagem que tínhamos e mantendo os processos de recrutamento mais ou menos nos mesmos moldes: embora estes últimos possam ser automatizados, creio que se continua a perguntar o mesmo que há mais de 30 anos, nos meus primeiros empregos. Conseguimos selecionar o talento certo assim?

A Inteligência Artificial não vai apenas realizar tarefas repetitivas nem nós vamos ficar só com as tarefas interessantes. O que fará “o humano no trabalho” já a breve prazo, quando muitas tarefas diárias já estão simplificadas – este mesmo tema é abordado noutra perspetiva noutra crónica de hoje nesta rubrica – demitindo-nos de pensar muito, o que já é apontado como redutor de inteligência humana e do espírito crítico? Segundo Aneesh Raman, Chief of Economic Opportunity Officer do LinkedIn, teremos de sair do modelo da “Economia do Conhecimento” para adotarmos a “Economia da Inovação onde as capacidades humanas como criatividade, curiosidade, coragem, compaixão e comunicação [os 5 C] serão a chave” e farão a distinção.

E como é que se ensinam e aprendem? Criatividade, Curiosidade e Comunicação podem aprender-se com resolução de problemas, aprendizagem orientada por desafios e por projetos, debates, “pensar fora da caixa” em equipas com diversidade, orientados por docentes criativos nas abordagens, curiosos e com tempo para maturarem e discutirem esses processos. Foco no que se aprende porque ensinar e aprender só fazem sentido juntos. Coragem e Compaixão talvez só as aprendamos pelo exemplo. Ao que disse Aneesh, acrescentaria autenticidade, consistência, resiliência e foco. Porém, não podemos ensinar o que não sentimos ou o que não somos e, assim, uma qualquer pessoa ou máquina pode assumir o que fazemos.

Uma nova função parece começar a resolver este assunto nas organizações: Chief of Learning and Development, CLO, cargo com que se designa um responsável por criar estratégias de aprendizagem, supervisionar a sua execução e assegurar que os a formação está alinhada com as metas da sua empresa. Tal já existe nas empresas, mas não no Ensino Superior em Portugal. E devia!

Autoria de:

Isabel Pedrosa

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