Opinião: O Estuário do Mondego, a Ilha da Morraceira e a classificação natural

Completaram-se recentemente três décadas de mudança profissional pessoal, da investigação para a conservação. Estava a discutir-se as áreas da futura Rede Natura 2000. Pensei ainda ir a tempo de sanar uma das lacunas que existia.
Dos principais estuários portugueses o único sem qualquer classificação, o do Mondego. Sim, disseram-me, era capaz de ser relevante, mas não temos dados. (Lisboa é longe…) Dados? Ora dados arranjo eu. E lá fiz recolha de diversidade de séries de dados, de aves, de invertebrados da vaza, de peixes, de plantas. Muita coisa à altura recente, publicada e a aguardar publicação. Material que foi guardado numa gaveta no Instituto de Conservação da Natureza…
Mais tarde conseguiu-se a classificação como Sítio Ramsar, da convenção de protecção das zonas húimidas. Mas esta pressupõe que exista uma classificação nacional ou regional, sem isso fica coxa.
Há cerca de uma década ( 2014 ) a Câmara Municipal da Figueira da Foz avançou com um concurso de ideias para negócios do mar. Lá atirámos o barro à parede de novo (com colegas) e propusemos promover a criação de uma área protegida regional ou local. Mas o concurso não teria bem esse objecto.
E porquê esta insistência? O Estuário do Mondego é uma área de elevada importância para a biodiversidade e para a economia dela dependente.
As actividades económicas presentes, extracção de sal e aquicultura, dependem da qualidade ambiental do ecossistema e podem promover a sua preservação, sendo efectuadas de uma forma sustentável e integrada.
Com que obejctivos? Preservar o estuário, o património natural e construido, as actividades económicas, permitindo que o município da Figueira da Foz tenha mais peso no planeamento e gestão da área, ainda integrando actividades de turismo e dinamizar infra-estruturas como o Museu do Sal, o Moinho de Maré. Com financiamentos que actualmente estão reservados para fins ambientais, de biodiversidade e conservação da natureza.
É um sonho que precisa talvez do sal da vontade política.