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Opinião: O dia seguinte

04 de fevereiro às 10 h43
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Muitos chegaram a afirmar que estas eleições deveriam ser evitadas e que os partidos deveriam, não esquecendo a situação de pandemia que atravessamos, pensar sobretudo na estabilidade como o factor necessário ao bem-estar da população e do país.

A geringonça deixou de se entender, António Costa manteve a arrogância que havia proclamado de negar qualquer entendimento ao centro com o PSD, e o orçamento acabou por ser chumbado!… Marcelo Rebelo de Sousa cumpriu o prometido de dissolver o parlamento … e convocou eleições para 30 de Janeiro.

A campanha eleitoral foi o que foi … debates entre partidos que não falaram de si próprios, das suas ideias, dos projectos necessários ao nosso País, projectos que diziam estar nos seus “programas” (sabendo de antemão que o nosso povo “não lê programas”, antes “gosta de ouvir o que cada um programa”)! Todos preferiram falar uns dos outros, quase sempre numa linguagem puramente destrutiva que chegava até nós vazia, sem conteúdo, pobre.

Mais … houve sempre um “partido das linhas vermelhas”, sempre o partido mais criticado (com críticas válidas ou puras invenções), propositadamente o mais badalado em todos os debates, desde a esquerda à direita (e é curioso… esse viria, depois, a ser o terceiro partido mais votado, com 12 deputados eleitos!…).

Pergunto-me eu como é possível fazer política (a política que todos desejaríamos) com tantas meias-verdades, com tanta incoerência, com tanta perda de tempo, com tanta frivolidade?!…

Aproximados do fim da campanha, as várias sondagens apresentaram um “empate técnico” entre os dois maiores partidos, num jogo subtil do “agora subo eu agora sobes tu” … e, eis senão quando, às 20 horas do dia 30 de Janeiro era anunciada a vitória do partido socialista, mas … uma vitória com maioria absoluta … perante a surpresa geral, incluindo a dos próprios!… É curioso, por exemplo, ouvir o socialista Pedro Nuno dos Santos confessar que não seria honesto se não dissesse que ficou surpreendido com os resultados (CNN).

Mas o povo votou e a vitória foi inequívoca. Uma inequívoca vitória que não deixou de ser uma inequívoca dança de passos trocados que no momento da escolha útil encaixaram na perfeição.

Não adianta agora, nos tempos que se aproximam e perante as difíceis contingências que se adivinham, reclamar o que quer que seja.

A votação desta maioria, repito, foi inequívoca apesar das expectativas terem terminado com muita surpresa.

São muitos os factores que numas eleições deste teor podem conduzir a um resultado destes.

Cada um de nós dará maior importância a um ou outro.

Apesar da percentagem de abstenção ter melhorado, o problema da abstenção continua a ser sempre desvalorizado, quando a verdade é que quase metade do País não disse o que pensa e não foi às urnas…talvez porque os portugueses estão cada vez mais saturados de eleições, sobretudo neste período em que continuam atravessados pela pandemia (e todos falam que é urgente mudar o tipo de votação (presencial, digital, mista)! Ou será porque os portugueses já não acreditam na “política” actual perante a pseudo-meritocracia do “carreirismo” a que começaram a assistir?

Seja como for, a verdade é que António Costa, ao esvaziar a esquerda castigou-a e desenhou a sua maioria absoluta. Por outro lado, a verdade é que a direita se esfrangalhou.

Em consequência, o xadrez da Assembleia da República modificou-se radicalmente e não há dúvida que nos esperam pela frente grandes desafios e também ao partido maioritário.

Pessoalmente, não apoio maiorias absolutas de qualquer partido porque, à evocação da procura da estabilidade, contrapõe-se sempre o facto de a democracia poder ser beliscada.

O diálogo entre os vários partidos com representação no Parlamento que, na noite das eleições, Costa prometeu estabelecer, pode transformar-se num “diálogo de surdos” ou num “monólogo do sou eu que governo”! E o “virar da página”, que Marcelo Rebelo de Sousa” anunciou como indispensável, poderá não corresponder exactamente a estabilidade, mas exigir, da Sua parte, uma atenção e intervenção redobradas.

Estou a recordar-me neste momento de um pensamento de R. Maria Rilke, que vou usar, adaptando-o a esta situação: “Não tentemos buscar por enquanto respostas que não nos podem ser dadas porque não as poderemos viver.

Viveremos por enquanto as perguntas e talvez depois, aos poucos, sem que o entendamos, num dia longínquo, consigamos viver as respostas”
… Desejo que António Costa nos deixe encontrá-las, mas não deixarei de acrescentar mais uma vez que as maiorias absolutas são tentadoras … mas não podemos deixá-las correr o risco de resvalarem para o “quero, posso e mando”!…

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