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Opinião: O católico que não é crente

07 de janeiro às 15h32
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“Sou católico, mas não sou crente”.

Todo o ateu que nunca disse um “graças a Deus” que atire a primeira pedra.

Muitos gozaram com esta entorse de Rui Rio na SIC, mas quero deixar claro, branco no branco, que tal é injusto, sem parecer justo.

Apenas para calar os que são simultaneamente céticos e crédulos: então, não há também trabalhadores que não trabalham?

Presidiários que andam soltos? Não vi memes sobre eles. Rui Rio, pelo contrário, trouxe à filosofia moderna uma nova frescura, deu à teologia uma reinvenção da prática cristã, e põe-se toda a gente a atirar pedras ao homem. Isso magoa… sem aleijar. Não percebo qual o mal de haver católicos não crentes, ateus evangélicos, ou protestantes budistas. Cada um é aquilo que quiser. É sim senhor.

Se Rui Rio diz ser “católico, não crente e sem fé”, é um problema dele.

Também já houve quem dissesse que “fumo mas não inalo”, o que, em boa verdade, é o mesmo que beber água e não engolir, ser vegetariano e não comer vegetais, ser alcoólico e abstémio, pagar quotas sem ser sócio, ser negacionista e querer a vacina, ou tomar banho sem se molhar. Em termos geométricos, é a quadratura do círculo.

Vi quem defendesse não se tratar de qualquer contrassenso, mas sim de um lapso de retórica, vulgo lapsos linguae. Há políticos propensos a falhas na nossa língua. Veja-se o caso de Vladimir Putin.

Ou mesmo de Boris Johnson. O que coloca Rui Rio ao nível de grandes líderes mundiais que não conseguem articular-se corretamente em português.

Li igualmente que Rui Rio, ao confessar-se católico e ao mesmo tempo não crente, demonstra uma estratégia para agradar a todos.

Uma espécie de dupla personalidade ao encontro do eleitorado, a mesma que o levou a defender a prisão “perpétua”, mas… com saída daí a uns anos. Uma revolução da matemática social. O mesmo que dizer que o infinito começa aqui e acaba ali.

Tal como Rui Rio, haverá com certeza um nicho composto por pescadores que não pescam, cantores que não cantam, marinheiros que enjoam, aviadores com medo das alturas, costureiras sem linhas, tenistas sem raquete, futebolistas sem chuteiras, varredores sem vassoura, lenhadores sem machado, calceteiros sem martelo, carteiros sem cartas, caçadores sem espingarda, pasteleiros sem bolos, mães virgens com vários filhos, automobilistas que não conduzem, ciclistas que não pedalam, ladrões que não roubam, e católicos que não são crentes.

Posto isto, resta-me dizer que “só sei que nada sei”.

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