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Opinião: O barbeiro de Bruxelas

08 de julho às 10h01
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Sobre a prestação portuguesa no Euro2024 já foi dito quase tudo, mas não por todos, pelo que se me permitem irei partilhar um breve relato passado comigo aqui em Bruxelas.

Desde 2017, que tenho o hábito de ir ao mesmo barbeiro. Ahmed, é um marroquino de Tânger – que recorda com orgulho a derrota portuguesa no Cerco de 1437, depois do sucesso em 1415 na conquista da vizinha Ceuta – um tipo de enorme simpatia e competência, com quem invariavelmente as conversas giram em torno de futebol. Do sofrível campeonato belga, às noites da “Champions”, passando pelos diversos torneios mundo afora. Senhor de uma cultura futebolística assinalável, com certeza fruto das muitas horas livres – entre um cliente e outro – na leitura de jornais e na escuta da rádio, gosta de exibir conhecimento.

Pois bem, recordo como se fosse hoje: o Roberto Martinez havia sido anunciado há poucos dias como o novo treinador português, depois de vários anos como selecionador da Bélgica, e numa visita ao Ahmed fui de imediato confrontado com a respetiva apreensão e incredulidade. “Como poderia tão fraco treinador servir os intentos de uma das mais fortes equipas do mundo?”, questionou-me mal coloquei o primeiro pé dentro da barbearia.

Ahmad começou então a recordar o que havia andado a dizer anos antes. Martinez tinha tido a “geração de ouro” belga ao seu serviço. O país e o mundo reconheciam o talento de Courtois, Vertonghen, Kompany, Carrasco, De Bruyne, Witsel, Hazard, Lukaku e Eden Hazard, entrou outros. Mas com toda esta matéria-prima apenas conseguira um terceiro lugar no Campeonato do Mundo em 2018, os quartos de final no Euro2020 e a eliminação na fase de grupos no Campeonato do Mundo em 2022. Muito pouco, portanto.

Mais, o marroquino identificava os pontos fracos de Martinez e as causas para o insucesso com profética clareza: falta de ambição, ausência de leitura do jogo, conservadorismo nas substituições, mau gestor de egos e total falta de identidade. Isto é, tudo aquilo que Portugal – depois de Fernando Santos – dispensaria!

Em síntese, a derrota de sexta passada tem um nome e um rosto. Não terá sido novidade para ninguém que goste e entenda de futebol. Agora, é tempo de olhar em frente e recomeçar. Sem Roberto Martinez, “Insha´Allah”!!

Autoria de:

Ricardo Castanheira

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