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Opinião: O algoritmo e a sociedade em bolhas

11 de outubro às 13h28
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Um algoritmo é um conjunto de instruções com vista a um objectivo. Um exemplo comum é uma receita de cozinha. Mas hoje andamos preocupados com os algoritmos de computador, os conjuntos de instruções que se espalham por tudo quanto é Internet. Até aqui tudo bem, com a ressalva de que estes algoritmos tendem a substituir os que foram sendo inscritos nesse computador bem mais complexo que é o nosso cérebro.
Estamos hoje a perceber que esses algoritmos, que nos aparecem sem que os procuremos, são instrumentos de manipulação. Com que objectivo? Muitos põem a hipótese de que se trate de censura, mas não o creio. Se seguirem o dinheiro e procurarem saber quem ganha com eles, descobrirão que servem para que nós usemos até à exaustão as aplicações que os incorporam.
Na verdade, os algoritmos parecem vir em nossa ajuda. Entre milhares de notícias e informações contraditórias a que podemos aceder, só nos resta escolher à sorte e ter informações irrelevantes. Assim, o algoritmo selecciona-as e apresenta-nos apenas algumas. Com que critério? – Dar-nos alegria, e essa é a sua boa acção.
Como é que o algoritmo nos dá alegria? Muito simples: primeiro vai saber o que nós pensamos e desejamos. Depois, vai escolher aqueles que se aproximam do nosso pensamento ou nos apresentam o que desejamos. Num só golpe, o algoritmo põe-nos a pensar que temos toda a razão e oferece-nos, em forma de anúncio para venda, aquilo que desejamos. Ganham os anunciantes que vendem, ganham os donos do algoritmo com o pagamento dos anúncios e o uso das suas aplicações, e ganha a nossa auto-estima, convencidos que somos os maiores e temos o mundo à nossa disposição. É uma alegria para todos, e mais alegria teremos nós ao ver a quantidade de pessoas que nos felicitam ou põem likes e outros emojis, muitos dos quais são falsos perfis – os chamados bots – que se compram facilmente. Mas, enquanto os outros estão apenas a ganhar o seu dinheiro, nós, consumidores finais, ficamos viciados na aplicação que os incorpora.
O vício resulta da grande alegria que o algoritmo nos traz. Mas quando pensamos na sociedade, o problema complica-se. Cada um acredita no que entende, mas alguns têm crenças disparatadas. E são esses que mais chamam a atenção, tal como a notícia de que um homem mordeu o cão chama mais a atenção do que a notícia de que um cão mordeu um homem. Não tardará então que a ideia disparatada reúna um bom número número de seguidores e crie uma bolha de pessoas à volta dela. Por isso, as sociedades estão a fragmentar-se em pequenas bolhas e perdem a coesão.
Cada bolha, convicta das suas crenças, sente-se superior às outras e ataca-as sem dó. Já foi o tempo em que as sociedades se tornavam coesas pela descoberta de um inimigo comum. Mas hoje, as bolhas são tantas que podem eleger inimigos por todo o lado. E é então que a sociedade das bolhas se desfaz em autofagia. A culpa é do algoritmo, mas nós, consumidores finais, também somos culpados porque não sabemos como nos livrar dele. Essa é a parte difícil enquanto não deixarmos o smartphone. Mas é possível libertarmo-nos dos algoritmos. Por exemplo, em vez de seguir as receitas de cozinha, podíamos cozinhar criativamente, improvisando ao lume a mistura de comestíveis e paladares. Fica a ideia.

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