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Opinião- Não estamos a atravessar uma crise…

13 de dezembro às 13h25
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Estamos em vésperas de mudar de ano e igualmente em vésperas de eleições. Dei-me por isso ao trabalho de compilar alguns dados básicos sobre Portugal e sobre a economia Portuguesa, nesta transição para 2022:

• Mais de 900 000 pessoas ganharão o salário mínimo no próximo ano, o que corresponde à duplicação de pessoas nesta condição nos últimos 10 anos.

• Mais de 60% dos trabalhadores portugueses por conta de outrem ganha menos de 800 euros mensais.

• Cerca de 1,7 milhões de famílias estão isentas de IRS por estarem abrangidas pelo mínimo de subsistência, ou seja, porque não ganham mais de 9.870 euros por ano.

• No total, 2.383.000 famílias não pagam IRS por insuficiência de rendimentos.

• A classe média em Portugal ganha entre 1 200 e 3 800 euros por família e por mês.

• O rendimento anual de cada família que exceda os 25.000 euros paga marginalmente 37% de IRS e acima de 36.000 euros, 2.770 euros por mês, paga 45% de taxa marginal – a taxa marginal mais alta do Mundo para este nível de rendimento.

• A carga fiscal em Portugal ultrapassou em mais de um ponto percentual a dos países da OCDE.

• Portugal desceu 3 lugares no Índice de Perceção da Corrupção em 2020, o pior resultado dos últimos 10 anos e estima-se que possa custar ao país 8 a 10% do PIB, num valor que rondará os 20 mil milhões de Euros, por ano.

• Entre 2014 e 2019 a produtividade cresceu a uma média de 0.02% ao ano em Portugal, ao passo que na EU o aumento foi de 0,6% e na OCDE foi de 0,9%.

• Portugal e Espanha serão os últimos países da UE a recuperar os seus níveis de riqueza pré-pandemia.

Os dados que sumarizei são apenas alguns dos que devem merecer a nossa atenção e preocupação. São aqueles que facilmente expressam as causas e o estado de estagnação do nosso país.

De que estamos então a falar? Estamos a falar de um país pobre, de um país de pobres que, num processo autofágico, vai desviando recursos da economia e dos cidadãos para alimentar um estado que não para de crescer, sob o pretexto de acorrer a serviços insuficientes e mal prestados e à necessidade de uma redistribuição que se vai fazer dos menos pobres para os mais pobres. Utilizo esta linguagem forte com um objetivo claro, naturalmente.

Não sendo fácil definir com clareza o que é um pobre, sabemos pelo menos que “pobreza é a condição de quem é pobre, ou seja, que não tem as condições básicas para garantir a sua sobrevivência com qualidade de vida e dignidade”.

Se tivermos em conta que a UE identifica a pobreza em termos de “distância econômica” relativamente a 60% do rendimento mediano da sociedade, eu pergunto-me se, se nos compararmos aos 60% de rendimento mediano da UE, quantos pobres seremos e qual a intensidade da nossa pobreza.

Assim sendo, eu questiono-me sobre quais deveriam ser as nossas preocupações e onde deveríamos concentrar a nossa atenção. Sobre as preocupações, as prioridades e as propostas que deveriam estar a ser desenhadas para o nosso país, para a governação e para a próxima campanha eleitoral.

Convido-vos até a fazerem uma ronda pelos diversos quadrantes políticos e a confirmarem o que está a acontecer e o que se está a desenhar. Mais à esquerda, exigem-se aumentos de salários e rendimentos, como se eles caíssem do céu (não discuto a sua óbvia importância).

À medida que avançamos no arco, vemos hesitações e a preocupação de distribuir o máximo para recuperar o máximo em votos. Se continuarmos, vemos as preocupações com o “excessivo” aumento do salário mínimo, como se as pessoas vivessem do ar e como se não tivessem direito a uma vida digna. E no final, ficam as perguntas:

• Quem está preocupado com a geração de riqueza em Portugal?

• Quem está preocupado com o aumento da produtividade e da competitividade da economia portuguesa?

• Quem está preocupado com a nossa divergência da EU que nos leva a ser ultrapassados pelos países a leste?

• Quem está preocupado com a corrupção e com a incapacidade da justiça para lidar com ela?

• Quem está verdadeiramente preocupado com um serviço de educação e com o SNS cujos custos não param de crescer e cujos serviços são percecionados como cada vez mais ineficientes?

Não compreendo um país anestesiado, incapaz de exigir aquilo a que tem direito.

Não percebo um sistema partidário envelhecido e cristalizado, incapaz de devolver à sociedade e ao país aquilo que tem abundantemente recebido deles.

Não compreendo uma população amorfa incapaz de perceber este progressivo empobrecimento a que estamos votados.

Na verdade, não estamos a atravessar uma crise… estamos parados no meio dela!

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