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Opinião: Luís Teixeira

29 de dezembro às 11h22
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A importância dos Profissionais de Saúde nas Administrações Hospitalares

No passado, na história da Medicina portuguesa e da prestação de cuidados de saúde em Portugal, o hospital era entendido como uma organização muito centrada na decisão médica, que determinava a quase totalidade da prestação de cuidados, existindo a administração para dotar a unidade hospitalar dos meios necessários (recursos humanos, equipamentos, suprimentos) para uso clínico no âmbito da prestação de cuidados de saúde.

Desde o ano 2002, por indicação política, os hospitais portugueses passaram a ser geridos como empresas a fi m de promover a melhoria do desempenho e da produção resultante da atividade clínica. Neste modelo é identificada uma nova linha de autoridade: a gerencial, centrada nos órgãos de administração (equipa que compõe o conselho de administração, gestores e administradores intermédios) assessorada por uma outra mais técnica representada por médicos e enfermeiros.

A gestão hospitalar (publica ou privada) actual está cada vez mais está comprometida com preocupações focadas nos
indicadores económicos como custos, investimentos, resultados fi nanceiros do exercício, revelando para segundo plano a melhoria na qualidade da prestação de cuidados, a renovação de equipamentos, a satisfação dos profissionais de saúde
perante as suas condições de trabalho. E é exactamente aqui que se iniciam as relações de tensão entre as Administrações e os profissionais de saúde que prejudicam o desempenho do hospital nomeadamente na produção e na qualidade.

Os profissionais de Saúde, têm preocupações focadas na maior e melhor capacidade de resposta para os seus pacientes, ganhando assim o devido reconhecimento na profi ssão e a valorização do hospital perante a sociedade através da elevada capacidade tecnológica, profissional e resultados obtidos. Reclamam ainda as suas necessidades de formação continua que muito contribuem para a atualização de conhecimentos e melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos seus pacientes. Está cientificamente provado que os hospitais que promovem a investigação e implementam centros de excelência com diferenciação tecnológica em determinadas áreas conseguem ter melhores resultados de desempenho com uma maior produção e qualidade. Por estas razões, é essencial equilibrar a gestão das unidades com o conhecimento e necessidades médicas estabelecendo escolhas equilibradas que satisfaçam as necessidades beneficiando os pacientes e que em simultâneo não ponham em causa a sustentabilidade financeira.
A visão do Hospital não pode estar focada apenas no seu desempenho em termos da produção realizada, mas também ter em conta o acesso dos pacientes aos cuidados de saúde, a eficiência e a qualidade dos cuidados prestados. Esta é uma visão que, quem é nomeado pelo poder político, por vezes não percebe, mas que é mais real daquilo que são as verdadeiras necessidades dos doentes.
A importância dos profissionais de saúde na gestão e os seus resultados das instituições de saúde remetem para a questão da governação clínica, conhecida na literatura internacional como “clínical governance”. Constantino Sakellarides em 2009 já referia que “a governação clínica deve ser encarada como um conjunto de políticas, estratégias e processos baseados na qualidade, capazes de assegurar melhoria contínua na forma como o hospital trata e cura os seus doentes, no modo como presta contas à comunidade e à tutela e na eficiência como administra os recursos que lhe são confiados” e chamava à atenção: “trata-se de um processo de integração de capacidades e competências clínicas e de gestão envolvendo diretamente a equipe médica, gestão e todos os profissionais da estrutura em torno do planeamento e prestação de cuidados de saúde”.

Uma revisão da literatura efectuada por Alexandre Morais Nunes e Andreia Afonso de Matos revelou as vantagens da importância da presença de médicos em posição de gestão de topo melhorando o acesso aos cuidados de saúde, a sua produção e qualidade e também a redução de custos e desperdícios. Na verdade, nem todo o médico tem perfil ou capacidade de gestão mas não há dúvida que são os médicos aqueles que possuem os melhores conhecimentos clínicos e os mais capazes na previsão da prestação a realizar com maior fidelidade, sendo os mais conscientes na tomada de decisão e planeamento hospitalar contribuindo para a redução do desperdício. Não há também dúvida que o gestor médico é o melhor defensor da qualidade dos cuidados de saúde prestados e da segurança dos doentes e tem maior credibilidade junto dos restantes médicos do hospital, facilitando a comunicação entre a administração e todo o restante corpo clínico. Talvez por isso há cada vez mais médicos com experiência, formação e pós-graduação específicas em gestão de unidades de saúde mostrando que os médicos além das responsabilidades clínicas, estão preparados para desempenhar um papel ativo na gestão.
Os benefícios de ter profissionais de saúde integrados na gestão da saúde são inegáveis. Gianrico Farrugia (Mayo Clinic – EUA), Tomislav Mihaljecvic (Cleavland Clinic – EUA) Heyo K. Kroemer (Charité Hospital – Alemanha) Paul D. Rothman (John Hopkins Hospital – EUA) são apenas alguns exemplos de Médicos que, na actualidade, são Presidentes dos Conselhos de Administrações de 4 unidades hospitalares que são referência mundial na excelência da prestação de cuidados de saúde

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1 Comentário

  1. Manuel Gis diz:

    Sim, a gestão hospitalar deverá ser exercida pelos médicos que também tenham conhecimento de gestão e não por nomeação politica, em que, de gestão nada percebem.

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