Opinião: Herodes ou magos?
O tempo de natal acabou com a festa da Epifania onde se escuta o Evangelho dos magos. A tradição diz que eram reis, que eram três, que se chamavam Melchior, Baltazar e Gaspar, que correspondiam a cada um dos continentes então conhecidos (Ásia, África e Europa) e que teriam dado a Jesus três presentes.
Essa história pode ajudar-nos a pensar a vida que somos e o modo como vivemos. Somos o Herodes da história que representa os que se acomodam, os que vivem instalados, os que simplesmente criticam, os que passam o tempo no sofá e nunca tiram os pés das pantufas, os que vivem iludidos por muitas luzes e várias estrelas… sobretudo, os que querem ser a própria estrela?
Ou somos os magos, os que se colocam a caminho, os buscadores, os desassossegados, os que olham para o alto, os que estão atentos aos pequenos sinais e aos pormenores, os que vão ao encontro, os que atravessam fronteiras?
Em todos nós temos que reconhecer que há muito individualismo, muito egocentrismo, muito comodismo, mas também há vontade de fazer melhor, desejo de novos caminhos, capacidade para olhar mais longe e mais alto.
Os magos, que representam todos os homens e mulheres, oferecem a Jesus três presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro associa-se ao Rei, o incenso era usado para louvar a Deus e a mirra era usada para embalsamar os corpos.
Estes presentes representam o reconhecimento de Jesus como Deus, como Homem e como Rei. Um Deus que se faz homem para reinar dando a vida até à morte. Um dar-se totalmente por amor. Que desafio para todos!
Mas qual é o maior presente? Nos placards das autoestradas pode-se ler: viagem em segurança, o melhor presente é estar presente. Estar presente (onde estamos), ser presente (em cada momento) … Presente.
Há demasiados passados que nos ‘aprisionam’ e demasiados futuros que nos adiam e nos angustiam. Precisamos de presentes que, sem ignorar o passado, nos abram ao futuro, que nos comprometam com o quotidiano e que nos alimentem os dias de esperança.
Caso contrário, perdemos a estrela, perdemos o oriente e o norte… acabamos desnorteados e desorientados.
O Herodes ficou no palácio à espera que o mundo acontecesse, a querer ser a estrela, a alimentar a inveja e o ciúme… Os magos fizeram-se ao caminho e a história será sempre contada por eles. Afinal o que celebramos não é o dia de Herodes, mas o dia de Reis.