Opinião-Futuro? Qual futuro?..
Em tempo eleitoral, os jovens são, habitualmente, verbo-de-encher. Raras vezes tema relevante do debate político e, por isso, mesmo a retribuição faz-se na mesma moeda: as gerações mais novas estão alheadas da coisa pública, não votam e não tencionam dar crédito à classe política.
Pois bem, dois estudos muitos recentes, um em Portugal promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e, outro a nível europeu, do Eurobarómetro, mostram sinais preocupantes e que justificam a colocação do tema – o futuro dos jovens – no centro das próximas eleições nacionais.
Dois terços dos jovens europeus (abaixo dos 30 anos) avaliam como má a atual situação económica e esse dado confirma-se quando olhamos para a pesquisa nacional, onde três em cada quatro recebem menos de 950 euros líquidos por mês; a maioria vive com os pais; metade tem um contrato instável e um quarto considera todos os dias deixar o emprego. Por tudo isto, um terço tenciona emigrar e procurar melhores oportunidades além-fronteiras. É natural…
Se isto não são razões de sobra para que nas próximas eleições os jovens e o respetivo futuro seja um dos temas fundamentais então não sei que outras matérias possam ser mais relevantes.
Ainda por cima há sinais, a nível europeu, importantes: um terço dos jovens inquiridos considera que o respeito pela democracia, pelos direitos humanos e pelo Estado de direito é o principal ativo da UE; um terço olha para a cultura como o elemento que dá um sentimento de comunidade; sendo que as alterações climáticas continuam a ser, especialmente para os jovens europeus, uma das três principais preocupações que a UE enfrenta.
Ou seja, apesar de tudo, e resolvida a dimensão económica, a base de partida ainda deixa esperança.
Então, é preciso falar a sério sobre os salários dos mais jovens em Portugal, usando para o efeito mecanismos fiscais e outros. De uma vez por todas perceber se as universidades estão realmente a formar para o mercado ou para o desemprego.
Valorizar de novo o ensino profissional e fazer a pedagogia de que “ser doutor” não é condição de sucesso e, menos ainda, de boas condições económicas no futuro. Aproveitar a mudança de paradigma imposto pela pandemia para conversar sobre outros benefícios que vão além dos salários, mas que compõem a felicidade dos trabalhadores e que, em alguns casos, Portugal pode oferecer.
Os estudos citados são sinais de alerta. Se nada for feito, mais do que uma oportunidade perdida, é um indecoroso desprezo pelo futuro do país.