Opinião: “Escolher”

Uma teoria sem contraditório é uma praga pois cresce como um espécie sem predador, onde há muito alimento. Uma espécie que se reproduz muito depressa e muitas vezes por ano, pode tornar-se destrutiva, como o provaram alguns momentos em Montemor os lagostins e as ratazanas do campo, ou a abelhas asiáticas.
As teorias mais prevalentes que se construíram nos últimos anos são agradáveis e sustentadas pela ausência de contraditório. A tese do aquecimento global, a teoria das energias verdes, a ideia de que há mais que dois sexos, a implementação dos carros eléctricos. Michael Moore construiu um documentário perverso, diria pérfido, que desmonta as teorias da energia verde e vos deixo ao dispor. https://www.youtube.com/watch?v=Zk11vI-7czE. A verdade é que impedimos o contraditório e até o asfixiamos, numa montagem de discursos lógicos e carregados de certezas, que sofrem depois a ajuda do insulto e o vilipêndio nas redes sociais. Podemos mudar de sexo aos dezasseis anos mas não podemos ter carta de pesados antes dos vinte e um. Podemos ter animais guardados em minúsculas varandas e pássaros em gaiolas, mas não toleramos jardins zoológicos nem zoomarines. Podemos torturar um cão a vida toda, mas indignamo–nos da tourada. O cão dos cegos é um escravo ou um animal feliz? O problema é sempre o contraditório e a consequência última da nossa tese. Quando levamos recipientes para o take -away passamos a consumir muito mais água, pois temos de lavar os recipientes. Quando bebemos refrigerantes em garrafas de plástico estamos a apoiar o maior produtor de plástico do planeta e a entregar demasiado açúcar às nossas células. O vidro é reciclável de modo eficiente? Utilizar uma garrafa de vidro uma vez justifica destruir e reconstruir? Há uma evidência de fascismo ideológico que está a construir silêncios preocupantes.
O silêncio vota. O silêncio, vai escolher na tranquilidade outro desenvolvimento. O fascismo das certezas da moda tornaram-se possíveis pela vergonha de alguns políticos no contraditório. A ausência de outras estratégias para a situação actual da saúde pública, está a par com a ausência de críticas à separação do lixo, às políticas de aterros, à energia verde, ao veganismo, ao sistema prisional, à sustentabilidade, à certeza de corredores de bicicletas nas cidades. Tudo merece discussão aberta e ampla. Tudo deve ser dissecado até ser percebido o que podemos fazer melhor. De facto a maior das transformações para mudar o planeta é a consciência individual – a opção por reduzir o desejo e portanto consumir de modo ponderado, criar uma pegada mais eficiente, respeitar a fauna e a flora, sem produzir animais de estimação, que são apenas produções humanas para a sua egocentricidade controladora.
Temos coisas demais, desejamos objectos sem utilidade, ocupamos as casas com milhares de coisas sem uso e por isso somos um predador, sem predador. Estamos descontrolados na Natureza e daí advém a maioria dos problemas. O contraditório é essencial à percepção da verdade.
Michael Moore coloca o dedo na ferida e desperta questões a que cabe dar respostas sustentadas. Não sei com quem estou de acordo pois sei pouco destes temas, mas percebo que é na confrontação educada e com sabedoria, que posso escolher um caminho. Por tudo isto sou um firme defensor da liberdade, quase até à incomodidade.
Sr. Diogo Cabrita…
O contraditório é um assunto espinhoso. O não-contraditório é também assunto muito espinhoso.
Estudar o contraditório dá muito trabalho. Vivê-lo, experimentá-lo em permanência pode ser esgotante.
As palavras de abertura do livro de Graham Priest, publicado em 2006, com o título: In Contradiction: A Study of the Transconsistent, The Hague: M. Nijhoff.
são estas:
"To the end of exploitation and oppression
in all its forms and wherever it may be."
Pronto. E agora? Como fazemos?
Este texto é o chamado camaleão político… Começa por agradar à direita, depois cola-se à esquerda e no final acaba por confessar que não sabe que lado quer concordar: o que quer é que todos votem nele. Não, obrigado!
Qual texto?
Se se refere ao texto do Sr. Diogo Cabrita, nele, texto, não é o alinhamento político que não está em ordem, é o conceito de contraditório que não está em ordem.
Fora do texto, é a ética política, a ética colectiva, a ética individual, que está em desordem. E o Mundo em tal desordem também, que como o contraditório, vivê-lo, experimentá-lo em permanência, pode ser esgotante.
"I'm enough
You want more
You want more
You want more
I'm enough
I want more
I want more
You want more
I'm enough
I want more
You want more
You want more
I'm enough
I want more
You want more
You want more
I'm enough
I want more
I want more
You want more (…)".
More, Moore.
More, more, and more, Moore.